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segunda-feira, 24 de maio de 2010

PARES DE OLHOS

Pares de olhos era o qua se via por onde o foco passava. Pareciam estrelas,ali muito mais perto. Estariam como que imobilizados os pobres bichinhos. Não eram olhos que interessassem,senão estariam bem arranjados,nem alma se lhes aproveitaria. Escaparam naquela vez. Eram outros os olhos procurados. Levou seu tempo. Encontrados eles,adeus erva tenra do vale,que não mais te vejo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

CABEÇA DE FORA

Ah macacos sem vergonha. Escondiam-se por detrás das folhas das palmeiras,lá bem no alto. De vez em quando,punham a cabeça de fora,para bem depressa a recolher,parecendo gozar. Talvez soubessem que havia ordens para não os incomodar.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

BOA PAZ

Nunca vira tanta rola junta. Nem sabia,até,que as iria encontrar. Pois andavam lá em boa paz. Era bicho que não interessava.

terça-feira, 30 de março de 2010

DREZINA

Não contavam,e foram apanhados de surpresa. Fugiam macacos e lagartos,que o seguro morreu de velho. Era uma drezina pacífica a passar,serpenteando entre árvores esparsas.

segunda-feira, 29 de março de 2010

VIDA FÁCIL

Pareciam perdizes,aos bandos. Deviam ter vida fácil,que os alvos preferidos eram outros. Mas mal sentiam gente,lá deixavam a frescura das margens do rio.

domingo, 28 de março de 2010

UMA COBRA

O jipe passara em garganta estreita,perturbando o sossego de uma cobra,apanhando banhos de sol. E toda ela se ergueu,de cabeça bem levantada,pronta a defender-se.

sábado, 27 de março de 2010

ESCONDERIJOS

Aqui e ali,entre palmeiras,faixas de vegetação densa e espessa,cobriam o chão. Seriam óptimos esconderijos de bichinhos de todos os tamanhos. Pois não se viam,nem sequer ouviam. Teriam receio de dar notícia de si.

sexta-feira, 26 de março de 2010

VERDE

A água do rio não era verde,mas verde parecia. Verde era a vegetação que o envolvia e que na água se mirava.

quinta-feira, 25 de março de 2010

EM FUGA

A noite caíra,uma noite sem lua. O caminho,entre embondeiros,mal se via. Era o hábito que o adivinhava. Apenas se sentiam sons,já um tanto familiares. De súbito,ouve-se um bater de patas,de animal em fuga. Ele não fugiu,que uma casa estava perto.

quarta-feira, 24 de março de 2010

DESTREZA

Não era magia. A água subia,em jacto contínuo,do rio para a boca. O motor era uma mão,em rápida cadência. Muito pode a destreza.

terça-feira, 23 de março de 2010

CÁGADO PACHORRENTO

Mas que família estava ali no fundo da cova,onde permanecia um bocadinho de frescura. E eram formigas grandes e maneirinhas,e eram lagartixas,e eram ratinhos.Pobre do cágado pachorrento,que deitara a cabeça de fora. Daquela vez,escapara,mas não tardaria em marchar,que era ele melhor do que galinha.Olha ali um lince,à frente do jipe. Ainda tentou,mas tinha os dias contados.

segunda-feira, 22 de março de 2010

MAIS NADA

Estavam no seu pleno direito,pois então. Encontravam-se ali à espera de transporte que as levasse,bem como os seus carregos,e mais nada. Não era para serem fotografadas. Era o que faltava.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O MALANDRO

Os nenúfares tinham-se encarregado de atapetar a superfície daquela ampla lagoa. O enfeltrado era denso e só muito perto da margem é que a água se revelava. Algumas avezinhas saltitavam de uma folha para outra. O silêncio era rei. À volta,cactos-candelabro faziam sentinela. Ao longe,cortinas de papiros,com os seus penachos,lembravam cabeças tontas,desmazeladas. Era aquela imensidão a morada de famílias de crocodilos. A sua vida seria uma rotina se não tivessem peles. É que elas despertavam a cobiça de alguns. Ainda um deles se confessara uns dias antes. Então,quem lhe pôs o joelho nesse estado? Fora uma sorte. Por um triz,não estava ele,naquela altura,a contar o que lhe sucedera. O malandro ainda respirava. Uma noite inteira a verter sangue e ainda estava vivo. Quando o puxara,julgando que estivesse já morto,como lhe acontecera de outras vezes,o malandro ainda tivera forças para lhe deitar o dente. Não desistira. Apenas passara a ser mais cauteloso. Eram uma tentação aquelas ricas peles.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

SAUDADES

Naquela manhã,o ajudante era outro. Teria aí uns trinta anos. Naquele local,tinham ficado restos da anterior inundação,formando pequenas lagoas. Muito perto de uma delas,construira-se uma casa, a sua casa. Era ali que as nuvens de mosquitos eram mais densas. Porque viveria ali naquele sítio,sozinho? E a resposta veio,uma resposta,de alguma maneira, inesperada,para aquele que o estava a ouvir. Julgava ele que não se gastasse ali de tal sentimento.Não quisera ir com os outros por se ter afeiçoado àquele local . Criara-se ali. Sentia falta dele. Saudades dos tempos de quando era menino,evocações do passado,já um tanto distante.

sábado, 3 de outubro de 2009

TUDO DE BORLA

Aquela paisagem,novíssima para ele,encantara-o,seduzira-o. Não sabia para onde se virar,pois em muitos quadros ela se desdobrava,todos de ficar a eles preso.Era o amplo vale que a seus pés se abria. Era o vagaroso rio,a serpentear,que mansamente o cortava. Era a galeria de palmeiras e bananeiras que o alegrava.As bananeiras cresciam ao Deus-dará,com os pés-mães e os filhotes criando densas cortinas. As palmeiras,esguias,procuravam o céu. Eram os palácios de mergulhões,que não desejariam outro poleiro,pois, além de quartos,tinham mesa e roupa lavada,tudo de borla.Podia dizer-se que o vale era verde. Até o rio verde era,de reflexos e de constituição. Havia ainda um outro verde,um verde mais carregado,de outras palmeiras,não tão elegantes,ordenadas,muito apaparicadas. Eram nelas que os exímios trepeiros mostravam as suas habilidades,quando os cachos estavam a pedir que os fossem lá colher.A noite caía quase a pique. E o verde passava a tons violáceos,tudo muito a correr,que era urgente ir descansar.Era nesta altura que os embondeiros,que o punham especado,muito respeitador e um tanto temeroso,na sua frente,pareciam fantasmas de muitos braços. E os seus frutos,de pedúnculos compridos,lembravam ratazanas que eles usariam para mais amedrontar.Mas mal o sol acordava,de novo o vale se pintava de verde,de um verde mais verde. E os fantasmas e as ratazanas iam dormir.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

MAUS ENCONTROS

Era toda uma vasta área a estudar no que dizia respeito à qualidade dos solos. Tratava-se de um vale que saíra de uma inundação há já uns meses,mas ainda com restos dela.
Pois foram estes restos,deixados para o fim,que obrigaram a usar botas de borracha e sonda. Pobres mãos que ficaram numa lástima. A fotografia aérea,base do trabalho,e sede de registos,passou também a incluir números negativos,a indicar a profundidade da colheita. Não se foi além de quarenta,
pois havia o risco de maus encontros com crocodilos.
Uma coisa destas só vista,visto que contada não tem qualquer graça. É que havia mesmo por ali bichinhos desses. E quem já não podia contar era um javali que teria pisado o risco,indo para além da fundura indicada. Coisas que acontecem.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

UMA RATOEIRA

Era de noite,uma noite em que tinham ido à caça. Talvez ali,naquela baixa,junto ao rio,a caça surgisse. E lá entraram eles nela,na baixa. Afinal,tinham ido ao engano,pois caça não apareceu. E quiseram sair da baixa.
Era o saías. Por onde quer que tentassem,apenas água,e da funda,lhes aparecia. Uma ratoeira,não havia dúvida,um castigo para quem se preparava para fazer "maldades". Foi preciso parar,sair,e,a pé,procurar a vereda por onde tinham entrado.
Coitados deles,ali expostos,à voracidade de multidões de mosquitos,estimulados por quatro focos de luz. Foi uma noite difícil de esquecer,que as marcas deixadas por demoradas aspirações quase tinham sido feitas para ficar.

domingo, 12 de julho de 2009

AMPLO VALE

Não mais se pudera esquecer ele do rio Longa,ainda que se tivesse tratado apenas de uma convivência de escassos meses,mas que pareciam ter sido uma vida inteira,pela novidade,pela variedade,pela intensidade do viver. Tinha-se-lhe,de algum modo,entranhado.
Bebera da sua água,embora flitrada,lavara-se com ela,atravessara-o,duas,quatro vezes,a bem dizer,diariamente,de jangada,com demoras,caminhara ao longo das suas margens,por motivo de trabalho,ou por avaria do jipe,vira-o,lá do alto,serpenteando,mansamente,por amplo vale,deleitara-se com o frenesim de muitas bocas de peixe que nele moravam,na disputa de alguma coisa de comer,e com o voo picado de algum pelicano na procura de sustento,admirara a galeria de esguias palmeiras e de tufos de bananeiras que o alegravam,descera-o,uma vez,quase até à foz,vendo desfilar lagoas por ele deixadas,restos de inundação recente,lagoas atapetadas de nenúfares,assustara-se com o indesejável encontro com uma giboia,que ia lá à sua vida,quase noite,abandonando o fresquinho da sua casa de beira-rio.
Podia lá tê-lo esquecido. Fora conhecimento para sempre. Mas não só ele,mas também o Nhia,que o engrossava.

CARTA DE SOLOS DA FAZENDA LONGA-NHIA,ANGOLA

Carta de Solos da Fazenda Longa-Nhia (Angola), (4.000 hectares), escala 1:5.000, Companhia Angolana de Agricultura, 1960

Excerto de http://www.a-c-g.org/seiten/amilcarpt.htm

UM RESPEITÁVEL BANDO DE GALINHAS

Logo o jipe havia de aparecer,quando elas se estavam a sentir tão bem ali naquela clareira. Era um respeitável bando de galinhas,barrando o caminho.
Viram o jipe chegar,viram-no aproximar-se e nada de se moverem. O jipe avançava lentamente,à espera de elas se decidirem,acabando por tocar nalgumas.
Só nessa altura é que reagiram. Levantaram-se,sem pressas,e como o jipe insistia,lá iniciaram o voo,mas tão lentamente,tão sem vontade,tão pesadamente,que quase se lhes tocava.
Finalmente,lá guinaram para a mata,que no outro lado estava o rio,que não seria das suas simpatias.