domingo, 31 de janeiro de 2010

POR AÍ ALÉM

A pressa para começar a trabalhar era muita,por achar ser curto o tempo de que dispunha para fazer o que pensara. Não foi de estranhar,pois,o que ouviu,numa visita. Ainda não chegou aqui há quinze dias,e já queria ir por aí além.

TELEGRAMA URGENTE

Era uma dezena de departamentos e o edifício tinha um porteiro. Certo dia,um telegrama urgente vai parar às mãos do porteiro. Está aqui este telegrama,deve ser para si.

sábado, 30 de janeiro de 2010

PORTUGAL PLACE

Havia por lá muitas outras praças,mas doutros países não se deu conta.

PROVAS

Olha quem estava ali. Era um colega a uma mesa,acompanhado do seu orientador. No dia seguinte,iria prestar provas. Uma garrafa estava a refrescar. Parecia aquilo uma comemoração antecipada. Não se enganaram.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A DOIS PASSOS

O gosto,o prazer, que eu tinha de ir falar com o senhor,pois o que li dele foi-me muito útil,e não só a mim. Estou agora aqui,pode dizer-se, a dois passos lá donde ele trabalha. Mas isso nada me adianta,pois não me deixavam entrar.

NO CHÃO

Era preciso um divã. Não se preocupasse,comprava-se. Nem pensar nisso,que a casinha custou-me muito para a arranjar,e com o caruncho não brinco. Falta um divã? Cedo o meu. E depois,onde é que dorme? No chão. É que lá na minha terra faço montanhismo,pelo que já estou habituado.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

CONTA GOTAS

Era capaz de ser o quarto mais frio,uma água-furtada, lá da "guest house". Sem lareira,era quase como estar na rua. Havia,é certo,um calorífero,que trabalhava, com inserção de moedas, a conta gotas,o que não lembrava ao diabo. Ao fim dum curto tempo,apagava-se. A cabeça dava conta,acordando. Ela ja sabia,pelo que se munia de uma pilha de moedas. Também era fornecido um saco de água quente,que não era lá de muita confiança. Enfim,coisas que acontecem.

STUDENT PUDIM

Se os pratos não agradavam,não se ficava com fome. Aquele leite integral,quer dizer,sem gordura corrigida,e aquele student pudim, chegavam muito bem.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

CUP OF TEA

E numa tarde, houve tempo para pagar a visita. Não estava,e era capaz de demorar. Ocasião para tomar uma cup of tea.

TYNE BRIDGE

Uma ponte que Rosa Mota não esquecerá. É que a percorreu por duas vezes,em 1985 e 1990, a caminho da vitória.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PORTAS ABERTAS

Era visita a não perder. Um submarino não se dispõe a ser bisbilhotado em cada cais. E ali estava um, de portas abertas, em águas do Tyne.

VARIADA MANCHA VERDE

Então,já foi visitar o Dene?,era a pergunta que a velhota não se fartava de fazer. O Dene era uma das salas de visitas lá da terra,uma variada mancha verde. E ela,com tanta vontade de o percorrer,mas as pernas não estavam para isso.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

EM EXPOSIÇÃO

Coitadas das velhotas,ali encerradas por tempos infindos,sem poder deitar as brancas cabeças de fora. Mas mal as coisas melhoraram,trouxeram-nas para a varanda ampla,ali ficando como em exposição. Era lá que recebiam as visitas de fim de semana.

VIDRO

O pior não era a neve que atapetava as ruas. O pior era o gelo,parecendo vidro,que depois se formava. Ai de quem não soubesse equilibrar-se nos deslises.

domingo, 24 de janeiro de 2010

SINAL DE SI

A neve tinha caído em abundânca,mas não estava tudo branco. Algumas vaquinhas,muito juntas,elas lá saberiam porquê,davam sinal de si. Para elas irem fazendo pela vida,tinham-lhes deixado um monte de fardos de feno.

ESCAPE ABERTO

Faziam bicha,eles e elas,junto à loja de peixe frito e de batata frita. Vinham de mota,de escape aberto. E ali ficavam,sentados,de pé,comendo com sofreguidão,lambendo os dedos. Confortados,debandavam,deixando um rasto de gases,de ruídos,de risadas,e,acima de tudo,de vida.

sábado, 23 de janeiro de 2010

O INTRUSO

Era o render da guarda no Palácio de Buckingham,ocasião para tirar fotografias. Acontece,porém,o inesperado. O pára-sol da objectiva,sem pedir licença,atravessa o gradeamento e vai pousar no pátio. Uma pequena mancha negra,um corpo estranho,talvez explosivo,podiam pensar,era bem visível.E agora? O mais atilado seria abandonar aquele lugar. Entretanto,um polícia aproxima-se. É avisado. Atenciosamente,com um sorriso,curva-se,apanha o intruso,devolvendo-o. Simples,nada do que se temera.

PRONÚNCIA

Num "bus".Era o cobrador. Central Station. Numa ocasião,foi obrigado a repetição por algumas vezes,até sair correcta pronúncia,quer dizer,"centrl",e não "central". O que ele gozou.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

UM BRINCALHÃO

Num "bus",bem visível nos dois lados,em caracteres garrafais,lia-se o apelo - Pede-se a intervenção dos passageiros no caso do cobrador ser assaltado. Um brincalhão fez alterações num dos lados,com cortes e acrescentos - Pede-se a intervenção dos passageiros no caso da cobradora ser assaltada pelo condutor. Deve esclarecer-se que a cidade ramificava-se por uma vasta área,pelo que havia zonas muito isoladas.

NOVO EDIL

Discutia-se a contratação de um novo edil,numa nova modalidade. Tinham de alargar os cordões à bolsa. Não faltava a uma sessão. Estava reformado da sua actividade,mas não estava dispensado dos seus deveres de cidadão.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

DE VALIA

Defesa Civil do Território. Muito o velhote se orgulhava dos serviços que prestara. Teriam sido de valia,que as paredes da sala de estar bem o atestavam.

LEITURAS

Um "convite" para leitor de português. Nem pensar,que as leituras eram outras. Tendo aceite,o que teria acontecido? Um desastre? Um mudar de linha?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

UM IMPREVISTO

Convite para um "party", à noite,nos arrabaldes. Ainda se meteu no autocarro,ainda bateu à porta,mas só ficou à entrada. Deixou o dinheiro a que se tinha comprometido,para as bebidas,e,pretextando um qualquer imprevisto,não entrou.

A PROFESSORA

Ainda bem que o velhote não dispensava o "pub",onde se reunia com os amigos. Assim,a velhota só tinha o hóspede com quem falar. O que ele ganhou com isso. A professora não lhe levava nada.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O SEU TEMPO

Na pensão,roupa não era com eles. Assim,antes de se conhecerem os cantos da Casa,houve uma tentativa de resolver o problema no quarto. Para isso,era necessário arranjar "washing powder". Mas para na loja se fazer entender, levou o seu tempo.

O RECADO

A tristeza da senhora. Então,lá na sua terra é fácil arranjar quem ajude nos trabalhos de casa? Era ela,coitada,com mais de setenta, que tinha,na sua, de dar conta de quase todo o recado.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

OBRIGAÇÕES

Obrigações são para se cumprirem. Assim,passou-se pela Polícia a dizer que se estava lá,e,uma segunda vez,a solicitar prolongamento.

MARINHA MERCANTE PORTUGUESA

Uma das especialidades de Newcastle upon Tyne é,como se sabe,a construção naval. Não admira,pois,que tivesse ido encontrar as paredes do gabinete do Consul de Portugal revestidas com imagens de barcos da marinha mercante portuguesa ali construídos.

domingo, 17 de janeiro de 2010

OS TEMPOS ERAM OUTROS

Eram ainda bem visíveis,aqui e ali,restos,muito degradados,e sem utilização,dos tempos da arrancada da revolução industrial,os "slums". Não demoraria que essas manchas desaparecessem,que os tempos eram outros.

CONSERTOS

Reparações,nas casas,em aparelhos? Nem pensar. Era melhor comprar coisa nova. Assim,não era de admirar que as mães aconselhassem as filhas a casar com quem soubesse de consertos. Também não era de admirar que nos fins de semana se formassem bichas às portas de casas com coisas de remendar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

EM CIMA DA BANCADA

Ora ali estava a indicação de um artigo que lhe interessava ler. Na biblioteca do departamento não o encontrou,e também na Central. Aqui,preencheu um documento dizendo o que pretendia e onde trabalhava. Uma manhã,foi encontrar em cima da bancada uma fotocópia desse artigo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

CASUALIDADE MUITO REMOTA

Muito aquela máquina fotográfica trabalhou,não sabendo para onde mais se virar. Foi nos Cheviot Hills,muito em especial em Otterburn e Bellingham. Teria ficado com pena de não lá se demorar,mas havia horários a cumprir. Uma casualidade muito remota aquele encontro de dois colegas que já se não viam há uns bons anos. Para não mais esquecer.

UMA DESGRAÇA

Onde vai você a correr? Deixe-me lá,estou aqui que não posso. Era um moço interessado em saber mais coisas sobre o petróleo. Lá no sítio que me calhou, só o chefe é que eu entendo. Todos os outros é uma desgraça. Quero chegar a casa o mais depressa para abrir a televisão. Ali,sim,entendo o que eles dizem.

O FIGURÃO

Ainda bem que tens máquina fotográfica. Vou-te dar dois rolos para depois me tirares as fotografias que eu gostaria de mandar lá para a terra. O figurão que ele por lá fez. Não falhou um aparelho,com ele sentado ao comando,mesmo que não o tivesse utilizado ainda.

MAIS RICO

Olha lá,andas com dinheiro nos bolsos? Sim,uns tostões. Não importa. Vai já depositá-los,que,assim,ficas mais rico,por via do juro.

DE BRAÇOS ABERTOS

Era ali o banco para o qual tinha sido mandado o dinheiro que ele muito precisava de receber. Pois apanhou com um redondo não por não ter lá conta. Podiam ter-se lembrado de o convidar para cliente,mas não estariam para aí virados,vá-se lá saber porquê. Teve de ir bater a outra porta,onde foi recebido de braços abertos,talvez por ter lá depositado meia dúzia de tostões.

A FESTA

Lá para onde ia,iriam pedir fotografias,pelo que o melhor era já estar fornecido. Era uma segunda-feira,o dia a seguir às farras de fim de semana. Estava a casa cheia. A atender,um casal jovem. E ali,à vista de plateia atenta,a festa não havia meio de acabar

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

DESCE E SOBE

http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20602013&sid=aWwqW0dGCMMc

CASOS EXOTÉRMICOS E ENDOTÉRMICOS

http://antoine.frostburg.edu/chem/senese/101/thermo/faq/exothermic-endothermic-examples.shtml

IA FICAR A SER O PRIMEIRO

Ainda bem que o encontro. Tenho acompanhado a sua actividade e quero dar-lhe os meus parabéns. Só há um que o bate. Eu sei. Mas esse vai em breve reformar-se. Que alívio. Enfim,ia ficar a ser o primeiro.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"SE EU ME LEVO COMIGO"

"Erros meus,má fortuna,amor ardente". Tudo se conjugou para um longo peregrinar,por perto,lá por longe,muito longe. Umas vezes,fugindo,outras, escondendo-se. Mas "De que me serve fugir da morte,dor e perigo,se eu me levo comigo?". Certo dia,teria vindo refugiar-se em lugar humilde. Lá está,em modesto largo,uma placa a assinalá-lo. Quem iria dar com ele ali? Chegar-lhe-ia lá,a toda a hora, o cheiro fresco do seu Tejo,do rio das suas Tágides. Talvez um barquinho lhe valesse,se,acaso,fosse avisado a tempo de que perigo rondava. Lá se escaparia,rio abaixo,ou rio acima,guiado por uma ninfa,sua amiga. "Aquela cativa,que me tem cativo,porque nela vivo já não quer que viva".

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

INCENTIVOS AO LONGO DE UM PERCURSO

Negativos(de oficiais do mesmo ofício)

É pegar ou largar. O que o espera é não passar da entrada toda uma vida. Fica de fora,paciência,calhará noutra vez. Aquilo estava já ultrapassado,cheirava a velho. Era escusado vir em auxílio,pois chegava para ele. Ao tempo que isso já lá vai e só agora é que aparece coisa escrita. Estaria com receios? Olha o músico de uma nota só. Afinal o que está para aí,já outros o fizeram. O que o salvou foi ter andado por lá,porque,não sendo assim, estaria aviado. Com este sol,está-se mesmo a ver que andou a trabalhar para o boneco. Afinal,isto não ata nem desata,continua tudo na mesma. A casa às moscas. O silêncio. Os trabalhinhos. Nice question. Uma pena não poder ir até lá,mas o cofre estava vazio. Olha o atrevido,a querer invadir os meus domínios. Assim não estou a gostar,de modo que o que estás a precisar é de que te fechem a porta. Foi o diabo. E quando o diabo se mete,é mesmo o diabo.

Positivos(de oficiais de outros ofícios)

Vai em bom caminho. Uma coisa lhe posso garantir,você gosta mesmo do que faz. Não sabia que gostavas tanto disso. Agradeço o ter passado por lá. Depois,raramente me bateu à porta. Que pena perder-se um tão esperançoso trabalhador.

domingo, 10 de janeiro de 2010

UM MILAGRE

Querer ganhar,ou vencer,é uma coisa. Mas querer fazê-lo de qualquer maneira,fazendo disso uma questão de vida ou de morte, é outra muito diferente,a precisar de médico. Estando essa disposição muito espalhada, será uma coisa muito grave,com cara de não ter tratamento capaz. E então,só um milagre.

sábado, 9 de janeiro de 2010

UNS SÁBIOS

Sim,pode ser isso que acabou de dizer,mas também pode ser outra coisa. Sabe,há muitos factores em jogo,alguns,até,desconhecidos,que o sistema é complexo,pois que de diversas vidas se trata. É difícil,arriscado mesmo,dar uma resposta concreta,ajustada,sem se terem feito experiências.Este senhor,coitado,deve saber muito pouco,sempre com hesitações,sem uma indicação precisa,imediata,ali na ponta da língua. Não presta,em suma.Não é assim que procedem tantos,aqui,ali,em qualquer lugar. Têm logo ali,pronta para servir,ainda a fumegar,a resposta,a solução definitiva. Como a arranjaram,assim tão depressa? Muito simples,tão simples,que até uma criança era capaz. Leram ali,leram acolá,e já está. Não importa que a circunstância seja muito outra. Nem sabem,ou sabem,mas não ligam,que a circunstância é que dita,é que comanda. Uns sábios,em suma.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

MESMA DE SEMPRE

Teriam morrido de pé porque eram árvores. Tatava-se de duas fiadas de ramalhudas amoreiras,formando túnel,que aluviões sustentavam. Vieram substituí-las esguios choupos ,incapazes de fazer o mesmo. Naquela altura, estavam ainda nus,mas bem depressa se vestiriam de densa follhagem,que o tempo disso se aproximava e a terra era a mesma de sempre.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PRONTO E PRESENTE

O professor marcava faltas. O que se ouvia,esmagadoramente,era pronto ou presente. Pois é,o pior era aquele p,a iniciar um e outro,aquele falso,que só servia para atrapalhar uma pessoa. E não só ele,havia,e há,ainda outros falsos,com o b,e também,o c. Uns falsos todos,uns traiçoeiros. Deviam todos desaparecer,mas eles não estão para isso,de resto,têm muitos para os defender.Oh senhor professor,tenha pena de mim. Desculpe,mas eu não gosto do p,e de outros,também,mas,agora,o que importa é o p. Quando for caso doutros,eu venho cá ter com o senhor professor,novamente. Mas,agora,é mesmo só o p,desculpe,repetir. É que o p atraiçoa-me,não gosto dele,cá por coisas,não vale a pena estar para aqui a incomodá-lo. Oh,homem,diga lá,que eu sou todo ouvidos. O que é que o apoquenta,que eu já estou com pena de si?O p,senhor professor,o p atraiçoa-me. Quando eu chamo por ele,faz-se de mouco. Está a ver?,de mouco. O engraçadinho. E não vem,e não vem. Grita ele,lá de dentro,chama outro,não estou para te aturar. E isto,já de há muito,nem já me lembro quando começou. Olhe,senhor professor,venho lhe pedir para o trocar por outro. Mas já agora,estou-me a lembrar,e se o senhor professor me dispensasse de abrir boca? Eu, sempre que vier, sento-me ali na primeira fila. O senhor professor,quando das faltas,olha para lá,para essa fila. Se eu lá não estiver,marca-me falta. É simples. Não custa nada. Concorda? Concordo. Que alívio,senhor professor,muito e muito obrigado. Creia que nunca mais o esqueço. Muito obrigado,para sempre.

OS OUTROS QUE ESPEREM

Já repararam nalgumas sumidades que por aí andam,ao pé da porta ou lá por longe,pavoneando-se como em parada triunfal,de recolher os aplausos? Devem ter reparado,porque elas fazem-se ao reparo,pondo-se ali mesmo bem na frente do vulgar peão,ocupando os pimeiros lugares das primeiras filas.E devem ter reparado no ar pomposo que exibem,nos olhares sobranceiros,de desprezo,de desdém,que se dignam lançar,na voz engrossada que soltam,uma voz doutorizada,no peito que salienta,quase a rebentar.É caso para perguntar. O que é que elas fizeram para bem das gentes,da humanidade,de ao pé da porta ou da que se encontra lá mais longe,para assim se mostrarem tão sublimes? Examinando,mesmo à lupa,não se nota coisa que o vulgar peão não soubesse fazer também.Quando muito,umas vagas intenções,umas promessas ôcas. O que se nota bem é o que fizeram por eles. Sim,é que,em primeiro lugar,estamos nós. Os outros que esperem.

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SAFA

Já se não viam há muito tempo,pelo que estiveram ali um bom bocado à conversa. Quase a terminar,um deles lembrou-se de uma notícia recente e de alto significado. Então,o que dizes do convite que fulano recebeu?Mal dissera o nome do convidado,o outro raspou-se logo,como se quisesse fugir a sete pés de algum perigosíssimo bicho,ou, quem sabe?,do mafarrico em pessoa. E quando o fez,soltou um safa com tal carga de repúdio,que deixou o companheiro meio atordoado,sem disposição para pedir um esclarecimento.É bem certo que santos da casa não fazem milagres. É bem certo que não há pessoas que valham para o seu criado de quarto. É bem certo que em certos cantos não é o mérito que conta. É bem certo que nos mesmos cantos não são as ideias,mas as pessoas que importa discutir. Coitado,é careca,um rente ao chão,veste mal,está sempre a tossir,não gosta de telenovelas,não vai ao futebol,... Não presta,em suma.Vá lá para onde o quiserem,que cá não faz falta. Faça-lhes bom proveito,a ele e a quem o convidou. Era o mínimo que se podia ouvir. Mas nem isso. Safa.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

UM SACO CHEIO

Era um pai que tinha quatro filhos. Na sua casa ,o vinho,o azeite,a carne,o pão e outras coisas de comer, davam para partilhar e vender. Acontecia que,de quando em vez,passava por lá um moço pobre,de quem a mulher tinha muita pena,pelo que nunca se esquecia,às despedidas,de lhe aviar um saco cheio.
O moço estudava. E os filhos daquele pai, não. O estudo rendia, e o moço,coitado,não resistia a mostrá-lo. Não se lhe podia levar a mal,pois não?,se era essa a sua única riqueza? Pois do que se havia,um dia,de lembrar aquele pai? Olha lá,tu não tens pena de ser tão feio?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

MUITO QUIETINHO

A ser verdade o que o velho esteve para ali a contar,ele deve ter passado um muito mau bocado,em certo passo da sua vida. É que participou na criação de um posto médico. Os trabalhos,e aflições,que aquilo lhe deu,tanto mais que ele também tinha de estudar.Para começar,a escolha do esculápio. Estiveram vários interessados no anúncio que saiu nos jornais. A vida estava difícil,sabem. Um sarilho, que não há meio de se ir embora. Mas só um é que podia ficar,claro. A escolha parece ter sido acertada,pois entrou novo,e disse adeus quando já era quase um velhinho. Os outros é que não estiveram pelos ajustes.E choveram cartas,algumas de má catadura,até com ameaças disto e daquilo. Mais um sarilho,dos grandes. O moço não sabia onde se meter,e ele que tinha tanto para estudar. Felizmente que os preteridos tinham também a sua vida,pelo que se foram esquecendo,a pouco e pouco. Mas o caso esteve feio.Além do médico,houve as compras a fazer,marquesa,armário,mesa,cadeiras,primeiros socorros,coisas assim. Pois foi o moço que disso se encarregou. Podia ter nascido aqui outra encrenca,por não se ter feito concurso. Não lhe foi difícil,porém, esta tarefa,visto ter batido a uma porta de nome bem sonante,já muito batida nestes fornecimentos.Depois,para compor o ramalhete,uma pessoa muito importante não ficou nada satisfeita com o andamento da doença do filho. A constipação não havia meio de curar e a culpa era do médico. Quis levá-lo a tribunal.Outro sarilho,para o médico e para ele.Enfim,quando se viu livre daquela função,nem queria acreditar. Vá la uma pessoa querer ser útil. O melhor é ficar lá muito quietinho ,num canto muito escondido,de maneira a não darem por ele.

domingo, 3 de janeiro de 2010

TALVEZ CONFORMAR-SE

Estava em maré de se fazer ouvir. A inspiração visitara-o e à sua volta havia muitas orelhas ávidas de histórias da vida dos outros. Tratava-se de revelar alguns episódios da sua,dos tempos recentes. Coitado ,era para ter pena dele.A filha arranjara um rico marido. Trabalhar, não era com ele. Instalara-se lá em casa,com todas as armas e bagagens,fazendo vida de grande senhor. Não largava a cama,embalado por música de acordar os mortos. Os vizinhos protestavam,mas era o mesmo que nada. Ninguém o arrancava do fofo,e era o velho que se tinha de desembaraçar,se não tê-lo-ia à perna,que o menino não era para brincadeiras. Parecia ser ele o dono lá da casa e lá do bairro.Alguém,que ele bem conhecia,não estava ligando a esta história,talvez por já a saber de cor e ir ,também, com as suas preocupações. E interveio,avisando-o. Olha,vai-te mas é preparando,pois consta para aí que os passes sociais estão por um fio.Que me importa isso a mim?Tu sabes que eu tenho lá na terra uma casita e uns pedacinhos. Pois qualquer dia, mudo-me para lá. Livrava-me do genro e de outras coisas. Os que cá ficarem que se governem. Salve-se quem puder.Dali a uns dias, foi visto,de manhã,a carregar um pesado saco. Mudava-o,a cada passo,de mão, e a livre apoiava-se nas costas. Aquilo era demais. Ia de cabeça baixa,talvez a fazer projectos. Estaria farto e decidido a dar o salto. Afinal,não deu. Alguma coisa deve ter acontecido. Talvez conformar-se.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A MINORIA VENCEU

O moço,naquela altura,já era engenheiro. A acrescentar a isto,exibia a fitinha de aspirante a oficial miliciano. Um dia,quem é que o diabo lhe havia de pôr mesmo ali à sua frente? Precisamente,uma antiga namorada,que,entretanto, se casara. Vinha ela com duas meninas,as suas filhas.Passaram a encontrar-se. A terra era pequena e o caso alimentava conversas. Ela,talvez deslumbrada com os atavios do moço,parecia estar disposta a voltar atrás. O marido era um modesto empregado de loja.Os colegas do moço,naturalmemte,também entraram nos mexericos,formando,a propósito,dois partidos. Um, apoiava o idílio,e o outro,em clara minoria,queria acabar com ele,e já.Esgrimiam-se razões. Um homem tinha de aproveitar,caso contrário,o que restaria dele? Porque era um homem,e dadas as circunstâncias,ele devia pôr ponto final. Ela era mãe. Ele estava abusando da sua "superioridade".O moço hesitava,via-se entre dois fogos. Finalmente,decidiu. A minoria venceu.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

MEDONHA ALGAZARRA

Coitada da velhota. Já lhe tinham voado os dentes e a voz era entaramelada. Vivia de biscates e colaborava na animação da terra. Neste entretém,tinha a ajuda de garotos. Estavam ela e eles combinados. Quando aquilo estava a caminhar para a pasmaceira,resolviam intervir. A coisa era
fácil,pelo que dispensavam-se ensaios.
Chamava-se Ana,simplesmente. Era,pelo menos,a este nome que ela acudia. Mas os miúdos completraram-no,ficando, para todo o sempre, Ana Balhana. Não foi uma coisa ao acaso,pois assim dava-lhes jeito para comporem uns versos. E era numa medonha algazarra,atrás dela,que os recitavam. As correrias que a boa da velhota fazia para simular agarrar um deles. No contrato,
figurava a impunidade.