sábado, 28 de fevereiro de 2009

ALWINTON IN THE SNOW - NORTHUMBERLAND

Do Flickr,by johndal

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DURHAM CATHEDRAL REFLECTION

Do Flickr,by bateryman1970

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MONTES E VALES

Do blog OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

Título do autor. Arredores de Salavessa,Nisa. São múltiplas as sugestões desta imagem. De encantar.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

BELVER - PORTUGAL


Do Flickr,by Fotos do Zé Miguel

TROVOADA

No Alentejo. Título do autor da imagem.

Do blogue OLHARESDA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ONE & ONLY

Do Flickr,by serhio

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À VONTADE

Havia gente,havia,que bem se notava. Muita,muita gente,até. Mas gente com coração de uma só assoalhada. Apenas dava para um estar à vontade. Os outros que se arranjassem, lá onde bem entendessem. Ali,naquela uma só asssoalhada,é que não.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

SANTARÉM - PORTUGAL

Do Flickr,by Portuguese_eyes

AFLIÇÕES

Tão lindo que era o bébé. Era o encanto da mãe,muito jovem,era o encanto da avozinha,quase ainda uma jovem,era o encanto de toda a gente que ali estava,incluindo uma mãe de menina crescidinha.
Pois esta mãe andava muito ralada por a sua filha crescidinha não ser ainda como aquele bébé. Crescera,ao contrário do que certo poeta desejava,que os bébés não crescessem. Pois ele disse isso? Que bom que assim fosse,e na sua cara viu-se as aflições que a apoquentavam.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

UM ENCANTO DE ESTRADA

A caminho de Marvão,vindo de Castelo de Vide,próximo da Portagem.

Do blog OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

PORTAS DO SOL EM FÉRIAS

Do Flickr,by Portuguese_eyes

Está de férias a VARANDA DAS PORTAS DO SOL. Com estes dias de Sol,é uma pena não se poder ver dali o Tejo,a ponte,a lezíria,Almeirim,e tudo o mais que a vista alcance. É uma pena.

COISA ESSENCIAL

Aquela esplêndida varanda,debruçada,há muitos séculos,sobre não menos esplêndido vale,cortado,mansamente,por celebrado rio de plácidas águas,fora impedida,sabe-se lá por quanto tempo,de exercer a sua admirável função.
Uma ordem assim o determinara. Parecia uma ordem de quem dali não era,de quem não considerava aquela vista como coisa essencial,para assim se privar dela um momento sequer,quanto mais uma eternidade ,que seria o tempo necessário para pôr tudo aquilo que se estava vendo,novamente,no seu devido lugar.
Nem ao menos uma vereda,por mais apertada que fosse,para,de uma fugida,que a bicha seria de dar muitas voltas ao quarteirão,dar uma simples espreitadela,que mesmo assim,valeria ouro. Aquela ordem,não podia restar dúvida,tinha cara de ser ordem de quem por ali não andara desde menino,que se alimentara dela,que não podia viver sem ela. Tapar um panorama daqueles não lembraria ao diabo.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

SEU INGRATO

Olhe que você saiu-me um grande ingrato,não esperava isso de si. Sabe bem o que acontece por aí. Pois não passou ainda um ano,e já quere abandonar o lugar que poderia ter ido para outro,que o que não falta para aí é gente que o quisesse,quase me beijando as mãos?
Quer então que eu perca um lugar de quadro ? Onde estou,como sabe melhor do que ninguém,posso amanhã não estar,por ter encontrado a porta fechada.
Aqui,a continuar,só como tarefeiro,ao mês,com assinatura reconhecida no notário. Então,com as minhas muitas desculpas,passe por cá muito bem. Seu ingrato,e talvez mais coisas que não se ouviram.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

UMA VELHA MACIEIRA

Do Flickr,by John Charlton

E MAIS, E MAIS

Há, pelo menos,duas maneiras de ser,um estar que não tem mudado desde que o mundo se conhece,dizem,pelo menos,os entendidos das coisas do ser,essa gente que,além de terem sempre os olhos bem abertos,varrendo todos os quadrantes,até os mais escondidos,ou mais maneirinhos,também a eles muito bem se conhecem,talvez da convivência,quem sabe.
Uma delas, é o ser por ser,pela comezinha razão de não se poder ser outra coisa,pois não pode haver,pelo menos é o que se diz,seres ao quadrado,ou mais ainda,assim como lá com os números. A outra,é o ser mais do que o outro,ali o vizinho do lado direito,por estar mais próximo,por se ver mais vezes.
O mesmo parece passar-se com o ter,talvez por uma mera questão de imitação,quem sabe,que a originalidade custa mais. Uma delas,é o ter por ter,assim como um desporto amador,sem estar a pensar em competições. A outra,é coisa muito séria,tão séria que parece ser obra do diabo mais velho,daquele com muita experiência,muito batido. É o ter para ter mais do que o outro,que pode ser,à partida,o vizinho do lado,mas,depois,é um parar sem destino. É o ter sempre mais,e mais,e mais...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

NO ALTO ALENTEJO

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

TEXTOS DE UM ACASO - 7

Parecia que aqueles domínios eram do moço. E assim,logo que ficava livre,cumpridas algumas formalidades,lá ia ele,feito capaz,revistar todos os cantos. Era isso um claro sinal da estreiteza do seu viver,de horizontes acanhados. Diante daquela largueza,daquela riqueza,quase se julgava seu dono,ou fazendo parte da sociedade que a explorava.
Não havia buraco,pode dizer-se,que ele não esquadrinhasse meticulosamente. Mas, sem dúvida,era a horta,aquela grande e verdadeira horta,que mais o prendia,talvez por haver nela com que confeccionar muitas refeições.
Conhecia de cor todos os seus componentes,as noras,os tanques,as caleiras,os talhões,as árvores. Após um reconhecimento,como que a ver se estava tudo no seu sítio,escolhia uma sombra para uma observação envolvente,de senhorio total. Preferia um dos extremos,onde famílias de melros se recolhiam. Julgava-se no paraíso.
Por tudo isso,e ainda mais uns acrescentos,que não se podiam deitar fora,ficava consolado por uns tempos. Sabia,de antemão,que ao fim deles era lhe permitido repetir a dose. Sempre era uma compensação de vulto,coisa que muitos não teriam. Era,afinal,um moço cheio de sorte.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

LEAZES PARK,NEWCASTLE UPON TYNE - REINO UNIDO

Do Flickr,by teotwawki

DEVIDO DESCONTO

Acabara por o reconhecer,depois de várias hesitações. O tempo que já lá ia. O seu avançar fora meteórico. Ainda muito novo,ocupara altos cargos.
O seu ar respirava confiança,mais que importância. Era isso de sua natureza,do que recordava dele. Muitos anos tinham,de facto,passado,mas,aparentemente,apsar do trajecto de alto nível,continuava igual a si mesmo.
Não olhava de cima,ao contrário de tantos. Mas não se pode ser prefeito,pelo que não se conteve. É humano,há que dar o devido desconto. Sabe,estou aqui,pois ele foi durante algum tempo meu chefe de gabinete.
.

UMA CONFERÊNCIA

Não,que ideia,o meu pai é de outro ramo de actividade. Sou mesmo eu. Pois é para admirar e louvá-lo. Quem diria,tão novo ainda,e já com uma folha de serviços de se lhe tirar o chapéu.
Tinham-se encontrado pela primeira vez,por uma mera casualidade,ainda que trabalhassem em campos simlilares,só que um oceano os separava.
De algum modo,o elogio que recebera devia ter compensado a mágoa que teria colhido por ser
ali quase um ilustre desconhecido. De facto,só um,entre tanta gente ali reunida, dera com ele. Não satisfeito,certamente,com isso,fez saber ao outro que estava ali simplesmente de passagem,calhara,porque o seu destino era muito outro. É que o aguradavam,algures,para uma conferência que iria fazer. Para que constasse.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A BELEZA DOS GRANITOS


Da Web : eurasian. in/granite/

NISA - 3

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

ESTÍMULO DA NATUREZA

Ainda não era bem a Primavera,mas sim uma sua boa imitação dela,assim como uma espécie de arauto a anunciá-la,que ela estaria prestes. O que tinha acontecido naqueles últimos dias era bem uma amostra do que estaria para vir,muito à semelhança do que sucedera no passado,sem uma interrupção,como alguém se tivesse comprometido a uma tarefa,e que era,nem mais,nem menos,um autêntico festival da Natureza,incansavelmente a renovar-se,como programado.
A paisagem,aqui e ali,já dava um ar da sua nova graça. E eram as amendoeiras e outras prunóideas em plena floração,pintando-se de branco ou róseo,e eram as acácias a desdobrar já o seu amarelo. E eram as rolas que já se estavam a fazer ouvir,depois de sacudirem a frialdade que as tolhera. E eram as meninas a começar a aligeirarem-se e eram os meninos que as não deixavam sossegadas.
Ainda bem que a nova primavera estava para vir,a primavera das promessas a cumprir. Talvez nessa onda de novidade,de algum modo já conhecida,viesse forte inspiração a certas cabeças,que estariam também à espera desse estímulo da natureza para darem fruto que merecesse a pena.

A VIDA CONTINUA

A conversa não havia meio de terminar entre um mais velho e um muito mais novo. Parecia que não se viam há séculos. Então,despejaram os sacos? Deviam estar bem cheios,pelos vistos. Pode-se saber quem era? Pode,era o meu pai,já há muito tempo que não estávamos juntos. Aquilo parecia ficar por ali. Mas o muito mais novo lá achou que uma explicação não ficaria ali nada mal. E deu-a,descontraidamente,como se tratasse da coisa mais natural deste mundo. Sabe,a minha mãe não cumpriu. E então,sim,a coisa ficou mesmo por ali. A vida continua,quer lá saber dessas coisas,não faltava mais nada?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

BICHAS

Se houvesse votação,era certo e sabido que seria ela a eleita,e a grande distância da segunda. É que ela era única,um caso muito,mas mesmo muito sério. Parecia uma santa que teria vindo lá não se sabe donde e tivesse pousado ali,como por acaso. E ainda bem,que o que não faltava por ali,e arredores,era gente carente,era gente que não tinha lá em casa um mimo,uma atenção,uma palavra doce,essas coisas que deram em rarear,se é que alguma vez abundaram.
Sofria de asma,coitadinha,merecia melhor sorte,ou não,sabe-se lá,que ela com o coração que tinha,e com o que ela via,era capaz de estar disposta a ir-se desta vida de tristezas o mais depresa.
As bichas que se faziam,pois só daquela menina é que gostavam. Ela atendia,ela falava,ela inquiria,um fenómeno. E ela sem poder,coitadinha,mas lá desencantava uns farrapos de energia para cumprir o que ela acharia ser a sua missão.
Um dia,deixou de vir,depois,mais outro,e assim por diante. Uma grande,uma incontida tristeza derramou-se por ali. E agora? Onde estaria quem a pudese substituir? Acabaram por se conformar,que remédio. Chegara a hora dela,que tinha tardado. Mas não vivera em vão. Dera coisas de que outros careciam,coisas que iam escasseando,com cara de se tornarem coisas de um passado,que é capaz de não mais voltar. Quem sabe?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ALTO ALENTEJO

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

OLHOS NO CHÃO

Muito eu gostava de lhe apresentar a minha mulher. Quando quiser. Pode ser agora? Sim,terei muito gosto. Então,vou ali chamá-la. É só um instante. Por ali havia boas sombras,que faziam um grande jeito,pois o sol,quando dava para aparecer,era para cumprir uma das suas funções.
Não se esperou muito. Eles vieram,ela um tanto envergonhada,de olhos no chão. E ali ficaram,mão na mão,que ela não despegava, por uma eternidade.

CHÁVENA DE CHÁ

Certamente,deve estranhar aquilo que eu costumo dizer. O senhor diz aquilo que entender,não tenho nada a acrescentar. O senhor é que sabe,que já tem idade para saber o que deve dizer. Pois,aqui onde me vê,já falei doutra maneira,mas tive de desistir. Não sei se me compreende. Compreedo-o muito bem,não haveria de comprender? Vai mais uma chávena de leite,ou de chá? Pode ser,agora,de chá. Muito e muito obrigado. Não o esquecerei,pode crer. Têm sido muitas as suas amabilidades.

PARA APRENDER

Era um caderno,ali bem aberto,sobre o tampo da mesa dos almoços e dos jantares. E ele,e um seu ajudante,ainda que sem tesouras,fartaram-se de cortar. E este também é para cortar?,
queria saber o ajudante. Sim,esse também se corta. Para aprender. Estiveram naquilo a manhã inteira,quase sempre sozinhos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

NEWCASTLE JESMOND DENE

Do Flickr,by julieb1975

NISA - 2


Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

FANTASMAS

A pena que eu tenho de o dia não ter quarenta e oito horas. Pudera,o tempo passava depressa,
pelo que não tardava o dia de regressar lá à sua terra,àquela pobreza de terra. Não sabia para onde se virar. Mas não era só com ele que isso sucedia.
E era um espectáculo ver aqueles grandes e novos edifícios,como que novinhos em folha,de janelas todas iluminadas,ainda cedo,que a noite caía depressa,mantendo-se sempre assim até ao outro dia,com gente lá dentro trabalhando.
Não menor espectáculo eram aquelas ruas quase desertas,também bem cedo,que ao outro dia estava lá a tarefa à espera,ruas que se enchiam de fantasmas,que a névoa,por vezes muito densa,ajudava a criar.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

NATUREZA




DoFlickr As três imagens by dashananda


PARA O ESTRANGEIRO

O olhar dele,um homem alto,meio alourado, aí de uns quarenta anos,era triste, parecendo andar ali a cumprir forte pena. Arranjara trabalho,é certo,coisa muito rara de onde viera,mas estaria raladinho de saudades lá do seu torrão. Já iam para seis anos quando de lá saíra.
Então,aquilo por lá não muda para melhor? Não podia,que só com agricultura,que é o que havia por lá,não se sai da cepa torta. Fora sempre assim,não havia nada a fazer. Só um milagre.
Para sorte dele e de muitos, outros,onde agora se encontrava a fazer pela vida, a coisa era bem diferente,parecendo que continuaria a sê-lo,o que ele pediria aos seus santos que assim fosse por muito tempo. Também pediria que a disposição dos naturais se mantivesse,enjeitando trabalhos que os de fora não se importavam de fazer. Preferiam outros,trabalhando na sua terra,para o estrangeiro. E disse isto de uma maneira híbrida,misto de satisfação e de censura.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - 6

Não era para acreditar. Podia lá ter acontecido o que ele estava para ali a dizer. A ser assim,fora mesmo o demónio,o demónio em pessoa, que o tentara. O diabo daquele cofre,que estivera ali,de bocarra bem aberta,a provocá-lo,de braços bem abertos.
Atrevera-se algumas vezes,que ele ,coitado,não tivera forças para resistir. Mas o seu anjo da guarda nunca o desamparara,colaborando como os anjos da guarda sabem fazer,na perfeição. Era um anjo que tinha muita pena dos rapazinhos pobres,indo ao ponto de lhes proporionar ocasiões isentas de perigos. Foi o que lhe valeu,se não teria sido apanhado com a boca na botija,o que seria uma grande vergonha.
Admirava-se ele como só muito tarde dera conta daqueles atrevimentos. Deviam ser das coisas que vão sucedendo apenas com o passar dos anos,vá-se lá saber porquê. Talvez necessitem de um tempo de amadurecimento,quem sabe? E,chegando a altura própria,lá desabrocham ou lá estão prontas para comer.
Quem o estivera a ouvir,pessoa muito compreensiva,desculpara-o de todo. O teu mal foi teres sido um menino carenciado. Deita as culpas à vida que te calhou. Para uns,ela é mãe extremosa,para outros,madrasta má,mesmo muito má.
Seria difícil,impossível até,esquecer-se. Marcara-o como que a fogo o que fizera,e não devia ter feito. E assim,volta não volta,sem aviso prévio,lá surgem espectros do passado,amargurando-lhe alma e corpo,deixando-o a sangrar. Razão tinha o amigo.Tivera muito azar em lhe ter calhado tal madrasta.

AMIEIRA DO TEJO - 4

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

INESPERADO ENCONTRO

As surpresas que se podem ter quando se anda a trabalhar,ou a passear,em pleno campo. E foi o que aconteceu naquela altura,manhã ja alta. De repente,por detrás de uma cortina de árvores,em que pontificavam ameixieiras,lá nas imediações de uma vila do Alentejo interior,surge um chapéu colonial,que protegia a cabeça de uma senhora jovem. Encontrava-se de férias.
A senhora também ficara surpreendida,pois estava muito longe de adivinhar o que levava o outro a andar por ali. Mas era interessada,e sabendo de que se tratava,acabou por agradecer as informações,pois talvez fosse aquilo também útil ao marido,para quando regressasse. Certamente por isso,à despedida,disse que tivera muito gosto naquele inesperado encontro.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

AUTORIZAÇÃO

Sabe,é uma pena você não poder ir . Ainda andei lá a vasculhar o cofre,mas olhe que ele estava mesmo vazio,quer dizer,tinha lá ainda,num canto,uma meia dúzia de moedas que não davam para mandar cantar um cego,quanto mais para o que era preciso. É uma pena,pode crer.
Não se preocupe,e agradeço muito a sua pena,que eu vou ver se me arranjo por outro lado. Pois arranjou mesmo,que,com boa vontade,há sempre um cofre que não se importa de lhe irem às reservas.
Mas nada feito. Tinha de ter paciência,que ,além do dinheiro,era fundamental outra coisa,uma autorização para ir. E sem ela,não podia ir. E ela não veio,e ele não foi. Tinha de ter paciência.

UM GRANDE JEITO

Isto não pode continuar assim. O fulaninho,naquele acumular sem destino,qualquer dia tem mais dinheiro do que eu,e isso é que não,é que nunca,valia mais morrer. E eu não posso deixar de ser a primeira,no dinheirinho.
E vai daí,invocando os muito sagrados princípios de uma sã ecomomia,lá conseguiu que o pobre do acumulador,coitado,tivesse de dizer adeus ,para sempre, a meia dúzia de cobres que lhe davam um grande jeito.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

NISA -1

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

CASTANHOLAS

Quem desencaminhou o martelo que estava aqui,que me está a fazer tanta falta? Eu cá não fui,eu também não. É capaz de ter sido o Joâo. Onde está ele? Chamem-no lá. Ele ficou em casa,está doente. Vão lá buscá-lo. Veio o João. Coitado dele,quase se não tinha de pé,cheio de febre,a tremer muito. Todo ele tremia. Onde puseste o martelo? Lá conseguiu dizer qualquer coisa,que mal se percebia. Não tinha sido ele,coitado do João. A sua boca lembrava castanholas.

VELHO ATILADO

Já estava reformado,que os anos assim pediam,e o que recebia não era por aí além. Ele até alugava quartos,que a sua casinha a isso se prestava. Depois,sempre ficavam mais acompanhados,ele e a muher.
Então,concorda que lhe vão ao bolso,para dar bolsas a esses meninos e meninas,sem excepção,por andarem lá a estudar? Concordo,sim senhor,não havia de concordar? É que a maior riqueza de uma nação está nas cabecinhas. E as deles e delas têm de ser muito bem tratadas,
escuso de dizer porquê. Aquilo é que era um velho atilado.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

SABIAM DEMAIS

Mas a mim não me engana ele. Olha o esperto,ou sabe-se lá mais o quê? Eu já lhe vou mostrar como se fazem as coisas. E pespegou-se,levando companhia,lá na sala onde ele,dizia,ia dar umas explicações de matemática,a quem não tivera tempo,lá para trás no tempo,de as ter.
Matemática,estou para ver. Abre bem esses ouvidos,que eu vou fazer o mesmo,que ele não vai brincar conosco,ai não vai, não,não me chame eu Maria.
E de lá não saíram,feitas rigorosas inspectoras Um exemplo de profissionalismo,não havia mesmo melhor. Ela há cada uma. Está-se mesmo a ver que elas não precisavam daquelas explicaçóes,ao contrário das outras, coitadas. É que elas sabiam demais.

QUASE A RASTEJAR

Lá estavam elas,as pacaças. Fez-se barulho,muito barulho,como de costume,para as espantar,para sairem dali,que,primeiro,estava o trabalho. Elas que fossem descansar,dormir,para outro lado,pois muitos lados havia por ali.
E qual não foi o espanto,quando se viu uma,que se afastara da família,talvez desorientada,sabe-se lá,de pernas muito flectidas,quase a rastejar,assim de maneira a passar despercebda. Um espectáculo. Devia estar,também,a invocar lá os seus santos,pois aquela gente não era nada de fiar. Sabia ela muito bem do que eram eles capazes.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

PACIÊNCIA

Já viu a terra que lhe foram arranjar para o ensaio? Olhe que andaram por aqui ovelhas a fazer das suas. Depois se verá,não se preocupe. Fora,de facto,como se previa, uma rega de todo o tamanho. Muita água as ovelhas deviam ter bebido,água que ,ao sair,trouxera com ela o que tinha dissolvido. Uma certa adubação não faria melhor. Paciência,mas não se perdera tudo,pois sempre deu para tirar algumas conclusões.

FOME

Que lindas chapas ali estavam. Nelas se viam umas riscas,de densidade variável. Pareciam falar essas riscas. Quase que nem era preciso analisá-las. As mais deslavadas queriam dizer que alguém estava passando fome. Felizmente que não era gente,o que seria forte desgraça. Não demorou muito a dar-se de comer a quem fome passava.

EM PLENO CAMPO

Você por aqui,em pleno campo? O mesmo digo eu, Senhor Professor,não o fazia por estes sítios. Foi uma boa surpresa,acredite. Para mim,foi uma grande surpresa. Estava-o a ver só em laboratório,
e,afinal,aqui está em trabalhos de campo. É a vida,Senhor Professor,é a vida.
Um grande Professor este,de primeira escolha. Por onde passava,deixava rasto fundo. Para não mais o esquecer.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

UMA SURPRESA

Sinais muito conhecidos,de vozes,de cantos,vinham de muito perto. Era numa manhã de domingo. Um jovem,aí de uns quinze anos,presidia. A ouvi-lo,muito disciplinadas,uma dezena de crianças. Uma surpresa. O jovem,de vez em quando,passava por ali. Deambulava.

DE GRAÇA

Oh homem,olhe que estraga a farpela. Isto aqui não é uma parada. Eu sei. Mas sempre poupo a outra,a que me custou um bom dinheiro. É que esta foi de graça. Também não tinha com que a comprar,que elas devem ser caras.

AMIEIRA DO TEJO - 3

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - 5

A vida pregara-lhe grossa partida. Tivera um começo sem dificudades,mas com o casamento as coisas complicaram-se,dando mesmo para o torto. Nunca o teria imaginado. Mas quem poderia adivinhar,se nada,aparentemente,o indicava,antes o contrário? O marido não tivera culpa,coitado. São os azares da vida. Batem à porta,sem avisar,desencadeados por forças mais ou menos misteriosas,de que é impossivel escapar sem intervenção lá do alto. O que é preciso é uma pessoa resignar-se,e esperar por dias melhores. A seguir à borrasca vem a bonança,porque o diabo nem sempre está atrás da porta.
As coisas não melhoraram para ela,infelizmente,pois era merecedora de lhe ter cabido sorte risonha. Mas nunca perdera a esperança. Havia também a certeza de que uma vez por outra,por vias familiares,ser-lhe-ia permitido ter momentos largos com um algum cheirinho dos que tivera nos seus tempos de menina mimada. Não era a mesma coisa,claro,mas dava para recompor um pouco. Podia trazer-lhe isso alguma tristeza,porque lhe lembraria o que perdera. Se tal aconteceu,lá no íntimo,não se via,nem ela o diria. Vivia essas esporádicas ocasiões de fartura e despreocupação com naturalidade,tal como nunca as tivesse deixado.
A esperança transferiu-a ela para os filhos. Podia acontecer neles o que lhe coubera em menina e que se fora por uma fatalidade. Adquirira,talvez,a certeza de que seria esse o futuro,embora o não pudese viver.

TECLAS

O que se há-de pensar de alguém que bate sempre nas mesmas teclas em que gente bem instalada bate?

CADEIRINHA

Um largo para não mais esquecer,um largo que começou por ser grande,mesmo muito grande,e que depois,com o dobrar dos anos,foi encolhendo,encolhendo,até ficar reduzido ao que hoje é,um larguinho,com uma pequena estátua ao meio. E tudo isto,este grande fenómeno,deu-se por obra e graça dos olhos que o foram vendo.
Pois neste largo sucedeu uma coisa importante,melhor dito,muito importante. É que foi lá,numa casa para ele virado,que certo menino,de pouco mais de seis anos,aprendeu as primeiras letras,letras que lhe custaram o ter trazido de casa uma cadeirinha,senão seria obrigado,querendo sentar-se,a fazê-lo no chão. Acontecera,simplesmente,que outros meninos e meninas se lhe tinham adiantado,esgotando as cadeiras que lá havia.
Foi isto um sério sinal para o menino,que ele,naquela altura,não entendeu. É que,ao crescer,não muito perto dos começos,mas um tanto lá mais para diante,não lhe foi nada fácil ocupar outras cadeiras,não só por causa da concorrência em si,mas por causa de outras coisas,coisas de velhos e de novos,mas mais de velhos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

BERNARDO SANTARENO EM DUAS BIBLIOTECAS AMERICANAS

São 19 os títulos que figuram tanto na Congress Library,como na Universidade de Harvard. Desses títulos,dois são traduções -
The judgement of Father Martinho:dramatic narrative in two acts,translated and introduced by Celso Lemos de Oliveira,1994.
The Promise:(a play in three acts),translated and introduced by Nelson H. Vieira,1981.

SENHOR CARLOS

Naquela altura,numa bonita manhã de sol,em local também bonito,estava ele a lembrar que era ali perto que morava o senhor Carlos,o senhor Carlos que tanta colaboração lhe dera,sempre humilde,sempre prestimoso,durante três longos anos,lá muito para trás no tempo.
Pois vamos lá procurá-lo,que ele não se importará de recordar esse tempo longínquo,esse tempo que não voltará mais,e de que ele,certamente,terá saudades. Por ali não se via gente,parecendo sítio deserto. De repente,surgiu um carro,e dele saiu alguém da idade do senhor Carlos,que
talvez o conhecesse.
Ora,bom dia,não me sabe dizer se o senhor Carlos é ainda vivo? Mas o senhor Carlos sou eu,não me está a conhecer,estou assim tão mudado? Veja lá,senhor Carlos,o desastrado que eu sou. Esqueça a pergunta infeliz,e venha de lá um abraço. O abraço veio,de gosto,e ali ficaram à conversa como nos velhos tempos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

POMBO CORREIO

Teria quando muito uns sete ,oito anos,e nunca tinha estado naquela terra,pelo que não sabia os cantos dela. Era uma terra onde um menino como ele se perderia. Poi este menino,tal como um pombo correio, foi capaz,sozinho,orientando-se,talvez por cheiros,de que só ele dava conta,de aparecer junto de sua mãe,que deixara para ir dar uma grande volta. Não se sabe porque decidira deixar os companheiros. O que se sabe é do que ele foi capaz,sinal de que teria um bom sentido de orientação,o que se veio a confirmar.

QUARTA CASA

Um caso para pensar,esta mudança. Talvez para se estar mais perto da primeira casa,quem sabe? Como quer que seja,valeu a pena. Podia lá haver melhor varanda sobre o grande rio,que corria lá a dois voos? A vista era franca,soberba, para todo aquele amplo e rico vale. A variedade de cenários,em toda a roda do ano,que por ali ia. Um encanto,de ficar ali,preso a ele. Só isto dava para pagar a renda e sobejava,que elas continuavam baratinhas.
Só tinha um senão aquele belvedere. É que o muro de suporte que ali se pusera não era de grande confiança,pois,aqui e ali,dava sinais de que,um dia,haveria grande desgraça.
E o que são,também,os tempos. A casa,além deste senão,era,aparentemente,um tanto ou quanto vulnerável,parecendo ser de muito fácil invasão. É que,nos fundos dela,abrira-se uma porta,no seguimento do tal muro. Era uma saída,não para a rua,mas para uma terra de ninguém,pelo menos assim parecia. E por parecer,permitia que se tivesse quintal e nele se instalasse um galinheiro. Não houve,porém,surpresas,talvez com receio de que as galinhas dessem o alarme.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

ARMANDO GASPAR GARDEN - IV

















From the blog OLHARES DA NATUREZA




A TERCEIRA CASA

Naquele recuado tempo,havia casas para dar e vender ,assim pode ser dito,e baratinhas,quase a preço de saldo. Não foi difícil,pois,arranjar uma. Não era como a primeira,mas isso era para esquecer. Paciência,tanto mais que a situação dela era para invejar,mesmo em local onde aconteciam coisas.
Depois,o espaço era folgado,não como muitos,lá para diante nos anos,onde mal se podia respirar.Para mais,tinha também um quintalinho,para as galinhas,e,mais do que tudo,uma oliveira,o símbolo da paz,que não se esquecia de cumprir a sua primeira obrigação,que era a de dar fruto,que era todo aproveitadinho,o que fazia um grande jeito,e melhor proveito.
Das coisas a acontecer,há que referir,sobretudo,as entradas de toiros.É que uma das janelas estava mesmo em frente do seu recolher na praça. Quando tal sucedia,era noite perdida,pois não se sabia a hora do acontecimento. Era quando calhava,pois os bichinhos tinham lá as suas manias,pelo que obrigavam andar atrás deles,visto não serem lá muito certos. Mas valia a pena. Um espectáculo,de sons indefinidos,de vozes,de chocalhos,de gritos,de sombras,de mistérios.
Ficam para uma outra altura o desvendar desses e doutros mistérios,e talvez não,porque a vida sem mistérios não tinha graça alguma,era vida acabada.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

EM PRIMEIRA MÃO

Áquilo já era mania. É que se deixava sempre ficar para o fim,com a complacência,e sabe-se lá mais o quê,de quem o permitia. Se calhar já lhe conheciam o gosto,e para ele não ficar triste,não o contrariavam. Era,pois,sempre o último a botar palavra.
E não queiram saber o que é que daquela excelsa cabeça,via boca,vinha cá para fora,bem à vista de todos,e, também,dos ouvidos de todos,porque a voz dele era de se ouvir a grandes distâncias. É claro que os que já o conheciam não estranhavam,até já contavam. Estranhariam era se ele não se guardasse para o fim.
E então era o bom e o bonito. Para começar,começava sempre da mesma maneira,o que também se estranharia se não fosse assim. E sabem o que era? Que tudo quanto tinha sido dito até ali,quer se tratasse,de um,dez,cem,ou mil,a dizer da sua justiça,fora tudo velho,cheirando a ranço. Novo,novíssimo,só dele,em primeira mão.

A SEGUNDA CASA

Ora cá estamos na segunda casa. Foi só atravessar o grande rio,que ela estava lá à espera. Não era um palácio,mas também não era nada para deitar fora. Dava mesmo para rua nobre. Até um grande quintal tinha, que se assemelhava um pouco ao da primeira casa. Deu até para se criar lá um porco,que teve direito a festa rija,coitado dele. Mas cada um é para o que nasce,não há nada a fazer. Por ali se esteve um certo tempo,o tempo para se fazerem umas certas contas,que não vale a pena dizer quais são. Feitas as contas,não houve outro remédio senão agarrar na mobília e demais companhia,e atravessar,novamente,o grande rio,e ir à procura de uma nova casa,a terceira casa.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

SOFÁS DOS SEUS SONHOS

Ele tinha toda a razão. O trabalhão que ele dava,a resistência que ele oferecia,para o arrancar daqueles sofás. É que daquilo não tinha ele lá em casa e assim,vá de aproveitar. E sentia-se lá tão bem que acabava por adormecer. Se não era isso,ele imitava muito bem.
Quando achava que já tinha a sua conta,a conta de se sentir bem,lá condescendia,acordando. Mas era com grande tristeza,bem espelhada nos seus olhos,que ele os abandonava,aqueles ricos sofás dos seus sonhos.