quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - 6

Não era para acreditar. Podia lá ter acontecido o que ele estava para ali a dizer. A ser assim,fora mesmo o demónio,o demónio em pessoa, que o tentara. O diabo daquele cofre,que estivera ali,de bocarra bem aberta,a provocá-lo,de braços bem abertos.
Atrevera-se algumas vezes,que ele ,coitado,não tivera forças para resistir. Mas o seu anjo da guarda nunca o desamparara,colaborando como os anjos da guarda sabem fazer,na perfeição. Era um anjo que tinha muita pena dos rapazinhos pobres,indo ao ponto de lhes proporionar ocasiões isentas de perigos. Foi o que lhe valeu,se não teria sido apanhado com a boca na botija,o que seria uma grande vergonha.
Admirava-se ele como só muito tarde dera conta daqueles atrevimentos. Deviam ser das coisas que vão sucedendo apenas com o passar dos anos,vá-se lá saber porquê. Talvez necessitem de um tempo de amadurecimento,quem sabe? E,chegando a altura própria,lá desabrocham ou lá estão prontas para comer.
Quem o estivera a ouvir,pessoa muito compreensiva,desculpara-o de todo. O teu mal foi teres sido um menino carenciado. Deita as culpas à vida que te calhou. Para uns,ela é mãe extremosa,para outros,madrasta má,mesmo muito má.
Seria difícil,impossível até,esquecer-se. Marcara-o como que a fogo o que fizera,e não devia ter feito. E assim,volta não volta,sem aviso prévio,lá surgem espectros do passado,amargurando-lhe alma e corpo,deixando-o a sangrar. Razão tinha o amigo.Tivera muito azar em lhe ter calhado tal madrasta.

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