sábado, 31 de janeiro de 2009

A PRIMEIRA CASA

Um verdadeiro palácio,a bem dizer,sobranceiro a rua nobre. Nada lhe faltava,nem mesmo o princezinho. A entrada era um luxo,como não podia deixar de ser. Portão largo,pátio amplo,
empedrado,cavalariça,recanto ajardinado,de vistosos jarros,escadaria de dois lanços,varandim. Depois,era um nunca mais acabar de quartos,alguns para visitas,como lhe competia,cozinha de convento,onde pontificava a Joana,salão nobre,para os repastos,e,sobretudo,um grande quintal,para os folguedos. Neste,presidia uma alta nespereira. Tinha cisterna,outra fonte de inquietações para a senhora,que o princezinho podia lá cair. A um lado,rasgava-se varanda a condizer,debruçada sobre outro palácio,onde reinava uma princezinha orfã,sempre triste, porque a mãe não se dava ao respeito.
Depois ainda,segiu-se o desterro,e lá se foi o palácio. Não ficaram na rua,que uma segunda casa,para lá do grande rio,estava livre para os receber.

AMIEIRA DO TEJO - 2

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

"AMIGO"

O que se há-de pensar de um "amigo" que nunca lhe estendeu a mão quando dela precisou?
Como se há-de chamar um "amigo"que está sempre apressado,sem um segundo sequer para o atender?
O que se há-de pensar de alguém que nunca está de acordo com o "amigo" e que acode sempre pelo "inimigo" do "amigo"?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

AMIEIRA DO TEJO -1


Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

PALAVRAS AOS VELHINHOS

Ó moços de outra era! ó trémulos velhinhos!
Matusaléns! Noés! heráticos avós!...
Aves que a mãe deixou nos solitários ninhos,
Que se evolou,deixando os passarinhos sós...

Ah,eu bem sei

Apsar disso eu sou mais infeliz que vós...

Ouvi a história

E comparai,depois,a vossa história à minha.

Haveis de ver,então,ó Pais de nossos Pais!
Que eu hei sofrido mais na minha mocidade,
Do que sofrestes vós num século... Muito mais!

ANTÓNIO NOBRE
Poesia Completa
Alicerces
Círculo de Leitores
1988

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - 4

O acto chegara ao seu termo. Todos os bens,incluindo os da mulher,tinham ido na voragem. Ainda há bem pouco tempo o futuro lhe sorria,mas naquela altura,amarga altura,estava reduzido a nada. Não se contivera. Chorou lágrimas grossas,vindas dos fundos das entranhas. Ouviu-as o filho,uma criança aí de uns oito anos. Não as entendeu lá muito bem,no momento,mas ,mais tarde ,teve delas a real dimensão,vertendo-as,também,uma e mais vezes,que ocasiões não lhe faltaram.
Depois de uma maratona,que quase o arrasara,o filho recebeu dois prémios,cada qual o melhor,na forma de duas doenças graves,a dele próprio e a do pobre pai. Foi obrigado a esconder a sua,para acudir á outra,pois não havia mais ninguém de serviço. Sozinho,fazendo das tripas coração,acompanhou,dia a dia,a via sacra do pai,o costume,consultas,operação,internamento prolongado. Quase vacilou,mas lá cumpriu,mais morto que vivo,a sua missão. Pouco tempo,depois,encostou. Sozinho,sempre,a sua condição,lá se recompôs,mais ou menos,mas mais para o lado do menos,uma sorte,ainda,ou não,que podia lá ter ficado.
A mãe,coitada dela,lastimava-se,que mais não podia fazer,pois tinha lá também a sua carga,a sua conta,nada leve,como tantas,por esse mundo de contrastes gritantes,clamando aos céus,não se sabe bem porquê e para quê. O coração dela andava amarfanhado,dorido,muito dorido,como o de tantas mães,por esse mundo de interrogações e de interjeições. Merecia ela também um prémio. Entregaram-lhe,é certo,mas igualzinho ao calhado a muitas,um redondo nada. Tantas heroínas desconhecidas.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

ARMANDO GASPAR GARDEN - III
















From the blog OLHARES DA NATUREZA





ÚLTIMO ENCONTRO

Era um santo homem. Talvez por isso,cedo desta vida de enganos se despediu. Para não mais esquecer alguns dos seus passos no caminho de que tanto gostava. Para não mais esquecer aquele encontro,ali numa esquina,onde uma tabuleta pendia.
Parecia impossível que o negócio não estivesse a ir de vento em popa,ali,onde o vinho era rei e senhor. Pois não ia,pelos vistos. O que eu lhe agradecia se conseguisse que melhores dias eu viesse a ter. É para já. E o bom do santo imediatamente se dispôs a dar uma ajudinha.
E para não mais esquecer,sobretudo, aquele último encontro,tão inesperado,ali num banco rodeado de árvores frondosas e de silêncio,apenas cortado pelas conversas dos pássaros. Era capaz de se entender com eles,à semelhança do outro,o de Assis.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A CIRCUNSTÂNCIA

Sim,pode ser isso que cabou de dizer,mas também pode ser outra coisa. Sabe,há muitos factores
em jogo,alguns,até,desconhecidos,que o sistema é complexo,pois que de diversas vidas se trata. É difícil,arriscado mesmo,dar uma resposta concreta,ajustada,sem se terem feito experiências.
Este senhor,coitado,deve saber muito pouco,sempre com hesitações,sem uma indicação precisa,imediata,ali na ponta da língua. Não presta,em suma.
Não é assim que procedem tantos. Têm logo ali,pronta para servir,a solução definitiva. Como a arranjaram? Muito simples. Leram ali,leram acolá,e já está. Não importa que as circunstâncias fossem muita outras. Nem sabem,ou sabem,mas não ligam,que a circunstância é que comanda.
Uns sábios,em suma. Uns sábios convencidos.

UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - XVIII

103 - Respostas de produção à calagem no sorgo. 1989

104 - Efeitos em profundidade de aplicações de correctivos calcários nalguns solos regados. Em projecto.

105 - Algumas considerações sobre a composição de águas de rega usadas em ensaios de fertilização. Em projecto.

106 - Energias de troca catiónica naguns solos. Em projecto.

107 - Fixação de potássio nos solos por técnica de equilíbrio iónico. Em projecto.

108 - A calda bordaleza como correctivo da acidez do solo. Em projecto.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O AUXILIAR

Uma maratona,de quatro bem puxadas horas,das duas às seis da tarde. Só dois na estrada,à vez. Uma corrida em três fases. Era o último troço,o mais exigente.
Estava um em prova. O presidente do júri apreciava. De repente,ouve-se um auxiliar,que estivera examinando o comportamento na segunda parte. Que enorme erro que aqui foi cometido. O presidente quer saber pormenores. Ele é isso? Já me tem sucedido o mesmo,não admira. Foi reprovado o auxiliar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O CONTÍNUO

Ora diga-me lá o que sabe sobre esta matéria. Desculpe senhor professor,mas isso não consta do programa. Ah,isso é que consta. Oh senhor Joaquim(o contínuo) ,chegue aqui. Eu dei ou não dei esta matéria? Ah,isso é que deu. Já vê,eu tinha razão. Coitado do pobre contínuo,o que é que ele havia de dizer?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

ADOÇA A BOQUINHA AO MENINO

Que cuidados vão por aí com aquilo que se come.É mesmo de os comparar com os que se tinham lá no passado longínquo,é mesmo de lembrar algumas iguarias desse perdido tempo.
As amoras das silvas,à beira dos caminhos,revestidas de poeiras para todos os gostos. As uvas,tal como se encontravam nos cachos. A fruta integral,sem uma simples esfregadela na manga da camisa ou do casaco. As amoras das amoreiras,lá no alto, ou até no chão,a escorrerem açúcar.
Nas feiras,nada se enjeitava. As cavacas das Caldas,em grandes cestos,ali bem expostas às nuvens de detritos que o vento levantava,à passagem do que quer que fosse,veículos,animais,
pessoas. Os pinhões em colares,fabricados por mãos naturais. Os figos,secos ao ar livre,visitados por sucessivos exércitos de mosquitos,moscas,moscardos e outros que tais. Os torrões -de -Alicante,sem qualquer resguardo. Os bolos secos e cremosos,os tremoços,as pevides,as alfarrobas,as castanhas piladas. Marchava tudo e que viesse mais.
Depois,aqueles doces feitos de açúcar em caramelo,espetados em pauzinhos,com formas e cores as mais variadas. Quem os vendia e apregoava eram,quase sempre,velhotas,a necessitar de uns cobres,que a vida não estava para brincadeiras. O jeito que elas tinham para atrair a pequenada. Quem podia resistir ao adoça a boquinha ao menino? Aqui,os mais idosos procuravam lançar a suspeição,insinuando que no fabrico entrava muco de velhas.
E agora? Lava-se,desinfeta-se,esteriliza-se. A natureza deixou de ser natural. Persistem excepções,claro. E os gostos não se discutem,e os hábitos são os hábitos,são uma segunda natureza. É ir por essas feiras. As bancadas que por lá ainda se vêem. Aqueles ricos bolinhos,com muitos cremes,a despertar as atenções e a gulodice de Zés,de Marias,das diversas famílias aladas. É ver aquele ou aquela que chega primeiro.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - 3

A mãe resignara-se. Sabia que não tinha outro remédio. As crianças precisavam de praia,mas não lhas podia dar. O marido,coitado,dificilmente conseguia acudir às necessidades primárias. Muito coisa fazia ele já. Houve uma altura em que esta incapacidade a entristecia. Familiares e conhecidos mais abonados tinham essa possibilidade. Ouvia as narrações das temporadas de férias passadas junto ao mar. E ela,calada,sem poder também contar a sua experiência. Muito sofre uma pobre mãe.
Consolava-a a certeza de não estar sozinha na desdita. Quantas mães,a maioria,afinal,a acompanhavam nesse transe. Sempre a mesma vida,ao longo de anos,sem uma pausa,por pequena que fosse,a dar algum alento para o resto das duras caminhadas. Paciência. Que nunca faltasse o dinheiro para o essencial,a casa,o comer e o vestir. O pior eram as doenças. Felizmente que havia um médico amigo,de honorários simbólicos e de receituários modestos,em que,frequentemente,intervinham mezinhas caseiras. As mazelas também não passavam,geralmente,do trivial.
Tudo,porém, lá vai passando,umas vezes,melhor,outras,pior. O que é preciso é um pouco de imaginação para transformar pequenos nadas em grandes acontecimentos,satisfazendo-se com ninharias. De resto,o ontem já não existe e o amanhã,de que ninguém é dono,pode trazer muitas surpresas agradáveis.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

VOZ DOUTORAL

Não interessa como se chamava. Interessa é saber que,lá na turma,era ele,de longe, o mais lido. Que lhe importavam a matemática,as ciências,mesmo o português,com aquela horrível gramática? Nada,mesmo nada,ou melhor,o suficiente para não perder o ano.
É que os seus gostos eram muito outros. A cada passo,referia este ou aquele livro,citava esta ou aquela frase,resumia este ou aquele enredo. Os colegas admiravam-se de tanta sabedoria,de tanta precocidade,incapazes de o acompanhar. Nem isso,de resto,os movia,pois as matérias das aulas,em variedade e quantidade,não deixavam. Doutra maneira,como se havia de passar com boas notas?
Notas. Era superior a tais convenções. Os outros que decorassem aquelas mixórdias,que ele a isso não estava disposto. Havia de se arranjar mais tarde. Se os imitasse,como poderia estar a par das últimas edições,que ele se apressava a anunciar?
Adquiriu,assim,uma certa áurea entre a rapaziada,que muito o respeitava. Tinha prazer nisso,era bem evidente. Talvez,até,fosse o seu objectivo primeiro. Impressionar. Parecia não o preocupar o futuro. Ele saberia construí-lo.
E um dia,sumiu-se,sem dizer água vai. Constou que emigrara,para lá onde tinha família. Durante anos,viveu-se na expectativa de saber novas dele,que fossem o reflexo das suas muitas promessas. Talvez não se estivesse no lugar apropriado para as receber. Deviam andar por aí,
encantando outros. Mas não mais fora esquecida a sua figura. Sempre de capa e batina,o cabelo muito negro,puxado para trás. A voz era doutoral,de acordo,aliás,com a importância que dele irradiava.

UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - XVII

97 - Efeito do carbonato de cálcio na mobilização do potássio e do magnésio numa série de vinte amostras de solos ácidos derivados de granitos. 1987

98 - Recuperação de azoto aplicado em culturas de milho forragem. 1988

99 - Evolução dos teores de potássio,fósforo e azoto num solo dum ensaio de adubação com laranjeiras. 1988

100 - Respostas de produção à calagem no milho e suas relações com os valores de algumas características dos solos. 1988

101 - Dois casos prováveis de deficiência em enxofre. Em colaboração. 1988

102 - Caracterização do estado do potássio e do magnésio dalguns solos do perímetro de rega de Odivelas. 1988

domingo, 18 de janeiro de 2009

DE PÉ

Bastava ele. Só uma ou outra vez se viu acolitado. Sempre de pasta,uma pasta preta,já muito gata,como ele,onde trazia o Livro,e demais auxiliares do seu apostolado incansável,teimoso.
A volta que dava era um estirão de respeito,que era assim que tinha de ser,que o "peixe" andava arredio. Parecia ser isso demasiado para a sua idade,pois os cem aproximavam-se a passos largos. A figura era magra,branca. Sempre de passo lento,repousado,lá ia cumprindo a sua missão,de olhos bem abertos,todo entregue à descoberta de alguém a necessitar de salvação.
Na rede,quantas vezes nada encontrava. Mas nunca desanimava,persistindo sempre. No dia seguinte,mais propriamente na manhã seguinte,teria mais sorte. E quando assim era,não se sentava ao lado de quem lhe dava atenção. Ficava de pé,e de pé expunha as suas verdades,e de pé usava o Livro,o seu apoio por excelência,o seu mundo. O Livro o alimentava,o Livro lhe dava energia para continuar de pé,sem um aparente desfalecimento.
Foi capaz de ter passado para o lado de lá,o lado que ele conhecia de cor e salteado,de pé,como as árvores,das quais se diz que morrem assim, de pé.

sábado, 17 de janeiro de 2009

MADRAÇO

No vasto largo,muitos soldadinhos,futuros defensores da ordem e da pátria,marchavam mais ou menos garbosamente. Também,com aquela tenra idade,não se lhes podia exigir muito. Tinham,
pois,de lhes desculpar muita coisa que não estivesse a sair bem. Com o tempo,lá haviam de chegar onde se queria que eles fossem.
Nem todos,porém,andavam lá. É que um deles,vá-se lá saber porquê,estava feito espectador,sentado numa enorme bancada apinhada de gente. Fora,na verdade,uma grande falta a sua. O seu lugar era lá em baixo,ao lado de tantos,preparando o porvir,e não ali,feito um refinado madraço ou um sonso do mesmo calibre.
Uma senhora,que ele já tinha visto a fitá-lo,com olhos carregados de censura,acabou por não se conter. O que está o menino aqui a fazer? Que manha arranjou para se furtar à sua obrigação,
que era o de andar lá em baixo com os outros? Sim,que desculpa inventou? Ele há cada não presta,e mais mimos no género,que aquilo de modo nenhum se podia tolerar.
A voz da senhora era forte,e alta,palo que a ouvia meio mundo. O pobre moço,muito encolhido,
muito envergonhado,o que não era para menos,ainda se quis escapulir,para se furtar àquela vergonha,mas por onde?,se não cabia uma mosca ali à sua volta. O que lhe valeu foi ela ter dado conta do seu rebento no meio de toda aquela tropa e esquecer-se completamente dele.
Mas qual teria sido o motivo de tão gravíssima ausência? O mais provável foi ele ter chegado tarde e,para castigo,não o deixaram marchar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

ARMANDO GASPAR GARDEN - II

















From the blog OLHARES DA NATUREZA




quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

TOADA FORTE

Que bem eles cantavam aquela terra. E talvez ainda a cantem,pelo menos os mais velhos. Era um gosto ouvi-los,mais os homens do que as mulheres. As vozes tocavam fundo,bem lá na alma. Era uma toada forte,aparentemente monótona,magoada,um tanto nostálgica,porventura mais dum futuro do que dum passado,que fora sempre muito igual.
Para isso,a razão devia estar no eles amarem muito aquela terra,da qual muito dificilmente se desprenderiam. Fora lá que eles tinham visto,pela vez primeira, a luz do dia,por ali tinham andado sempre. Conheciam-na bem,tanto a tinham pisado. Conheciam-na palmo a palmo,assim se podia dizer,como os dedos das suas calosas mãos. Sabiam,como ninguém,onde se encontravam os melhores terrenos para as diferentes culturas,sobretudo,para o trigo,o rei,naquele tempo,o trigo que lhes dava o pão,a base do seu sustento. Sabiam onde colher as ervinhas que melhor enriqueciam as suas refeições. Sabiam qual o poço que tinha a água mais saborosa. Sabiam os segredos de vidas que se escondiam nos alqueives. Podia dizer-se que faziam parte daquela terra. Se eles a abandonassem um dia,aquela terra morreria.
As letras do canto falavam,de modo simples,das belezas daquela terra,simples também,da paisagem levemente ondulada,das muitas flores que a alindavam,dos cultivos preferidos,dos passarinhos,das cigarras,dos silêncios que segredavam,que encantavam.
Era um gosto ouvi-los,horas mortas. As vozes vinham lá de longe,trazendo recados escondidos. Ia-se lá saber que recados eram. Por ali pairavam,a provocarem,sem se mostrarem. Depois,desapareciam,sem deixar rasto.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

MAUS EXEMPLOS

Que mal lhes teriam feito as pobres árvores? E logo aquelas. Já contavam largos anos,é certo,

mas estavam ali ainda prontas para muitos mais,assim deixasse quem mandava nelas. E o bem que elas tinham feito? Davam ricas sombras,sem rivais à vista,sendo o regalo de muita gente,velhos e novos,quando por ali o calor era de rachar em dias de verão. E,depois,naqueles velhos tempos românticos,as noites,no aconchego da sua presença tutelar,eram ainda mais românticas. Para além disso,que já era muito,sem preço mesmo,era morada rica de um incontável número de famílias de pássaros.

Ali,porém,não havia respeito ,apontavam alguns,com ar carrancudo,o que era muito feio. Davam essas árvores muito maus exemplos. Já viram isto?,o que vai por aqui,está cada uma para seu lado,sem regra,sem dsciplina,às vezes,em magotes,enfim,uma desordem intolerável. Isto, só de gente desordenada. Pois tem de se pôr aqui ordem,e sem tardar.

E certa manhã,uma manhã triste,um exército de serras,daquelas bem afiadas,entrou a decepar. Não ficou uma para amostra,a lembrar um passado perdido. Tal mortandade era de bradar aos céus,que não intervieram,que os céus tinham mais que fazer. Estavam bem arranjados os céus se tivessem de atender a todas as desgraças.

Aquilo foi um choro interminável. Choraram as pobres árvores,enquanto puderam,choraram também as suas almas. Choraram pássaros e passarinhos. Choraram alguns desses velhos tempos românticos. Mas ninguém acudiu,pois tinham mais que fazer,tinham as suas vidas trabalhosas.

Ora, árvores há muitas,é o que não falta. Depois,elas crescem,assim não lhes rareie o sustento,não lhes falte o sol,e também a água,que o CO2,um tijolo fundamental,talvez do que mais precisam,há para aí às carradas,já nem sabem mesmo o que se lhe há-de fazer.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ESTÁ POR TUDO

O que mais lhe irá acontecer? Um velho jarreta,mais que empedernido,um fóssil da primeira geração de fósseis,a bem dizer,que viu,teimosamente,os contos,as notas grandes do antigamente,sabem?, passarem-lhe bem ao largo,como que zangadas,lá muito longe,fora das águas exteriores lá de outros mundos,que os há,como é conhecido,aos milhões,condenado,é o vero termo,a contar continhos,um parente muito,muito afastado,talvez em centésimo grau,ou muito mais,dos Contos,mas ainda assim,da família,uma vergonha sem nome para outras duas famílias,a dos Contos autênticos e a da família dele,desse monte de ossos velhos,ainda em figura de gente.

Uma condenação,está bem de ver,que não lembraria ao diabo mais diabo. Mas ela aí está,com todas as letras e mais algumas,de reserva. São continhos e mais continhos,uma verdadeira praga,para a qual não apareceu ainda tratamento eficaz. E o que ainda lá se encontra no baú? Ele não devia revelar tal coisa,pois que já anda para aí muita gente incomodada,mas saiu-lhe,pede muita desculpa. Para outra vez,vai lembrar-se. De resto,o segredo é a alma do negócio,segundo se ouve já ha muito,pelo que deve ser verdade.

Alguns daqueles que não têm mais nada para fazer,além das palavras cruzadas e outras coisas do género,como ler continhos,quaisquer que sejam,mesmo os de jornais de contentores de lixo,já andarão muito desconfiados. Ali deve andar trapaça,e da grossa. Deve lá andar por "digital libraries",em chinês ou numa língua morta,e vá de traduzir,muito mal,certamente,mas muito poucos dariam por isso,pois andam lá muito preocupados com coisas sérias. E é o que vale ao fóssil da primeira geração,se não já andaria a cumprir pesada pena,por falta tão grave.

Pois é capaz de o pobre velho ir desta para melhor a sonhar que irá fazer o mesmo lá para cima ou lá parabaixo,tanto faz,que vai tudo dar ao mesmo. Ele também já está por tudo,é o que lhe vale.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - 2

O moço não resistira. A doença do pai podia ter esperado mais um tempo,pois ele encontrava-se muito em baixo,mas elas são assim,acontecem,não têm data marcada. Tivera,há pouco, de travar uma dura batalha e estava sem forças. Ao contrário do que sucedeu,ser ele a acudir,precisava ele de ser amparado. Mas teve de ser,pois não havia mais ninguém disponível para o substituir. E foram semanas de grande expectativa e de grande desgaste. De constituição débil,claudicou. Depois do pai se ter recomposto,chegara a vez dele.
Sabia que não se podia queixar e assim teve ele próprio de tomar conta de si. O mal necessitava de repouso e de leite. Para isso,refugiou-se num quarto de pensão,já sua conhecida,que se prestou a ajudá-lo,neste transe.
Ele bem quis fazer tudo sem que o pai tivesse disto conhecimento,para o poupar a mais um desastre,mas,não se sabe como,o pobre velho acabou por descobrir. E foi visitá-lo.
Não queiram saber daquele encontro. O filho,ali estendido numa cama de pensão,a leite,longe da família. Mas com ela não estaria melhor.
O que aquele pobre velho deve ter sofrido. Era o filho em quem ele depositara as maiores esperanças, esperanças de uma vida melhor. E logo adoecera de um mal que lembrava o seu,e que presagiava um futuro nada bom para o filho e para ele. Deve ter ali concluído que daquele filho não podia esperar muito. Fora,afinal,uma carta errada em que jogara. Mas a isso já ele estava acostumado. A sua vida,afinal,não passara de uma sucessão de desaires,uma dura realidade,e não um sonho triste. Nascera com mau signo,à semelhança de muitos,sabe-se lá porquê.
Quando se despediu do filho,alguém ouviu o que ele disse à empregada que mais o acompanhava: ele é um bom rapaz. Como que a pedir-lhe que o tratasse bem, que ele merecia. Talvez tivesse querido recompensá-la,mas não estava em condições de o fazer.

domingo, 11 de janeiro de 2009

DE NADA

Nascemos sós,vivemos sós,morremos sós. Alguém o disse,alguém de muito peregrinar,de muito escrever,de muito pensar,de muito mérito. Alguém,que até,aparentemente,nem estaria carente de calor humano,ali mesmo à sua beira. Mas ele o disse,sem que para isso fosse solicitado. Teria sido,não uma descoberta tardia,depois de muito ter vivido,e visto,e reflectido,mas antes uma certeza que nascera com ele.
Vem isto a propósito de quê? Da resposta a uma simples pergunta. Então,o seu irmão? Já não tenho irmão? Morreu? Não,não foi isso,foi pior,muito pior. Deixei de o ter,quando do falecimento do nosso pai,mais precisamente,quando foi das partilhas. Assim,das partilhas,dos tais teres,para que todos,ou quase todos,correm,voam. Lindo,não é? A mais não ser. O malfadado ter,sempre ali,na brecha,a intrometer-se,por um mínimo dá cá aquela palha. Uma sina,uma fatalidade.
Uns anos antes,a quando da morte deste pai. Então,vem ver a família? Não,que ideia? Venho só por causa das partilhas. Assim,com uma franqueza rude,metálica,de prata,de ouro,melhor,de secura,de deserto,de nada.
Nascemos sós,vivemos sós,morremos sós. Alguém o disse...

sábado, 10 de janeiro de 2009

UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - XVI

91 - Sobre a distribuição a lanço e localizada de adubos fosfatados solúveis em água. 1986

92 - Sobre a determinação da necessidade de cal. 1986

93 - Eficácia na utilização dos nutrientes de três híbridos de milho grão. 1987

94 - Composição mineral de grão de milho e de sorgo e respectivas exportações. 1987

95 - Exportações dalguns nutrientes pelo milho forragem.1987

96 - Efeitos da adubação e calagem na composição mineral de milho forragem. 1987

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

VELHARIAS

Então o que é queres vir a ser? Quero vir a ser como o senhor professor. Não caias nessa. Olha que vais andar com a casa às costas uma eternidade,tal como eu.
A coisa mais importante que certo chefe de turma perpétuo fez, para justificar tal honraria,foi passar tempos largos à porta,de maneira a evitar que os professores não vissem o que ia por ali.
Coitado do professor. Sabem como é que eu cheguei aqui? Não sabem,mas vou contar-vos. Mas que isto fique aqui entre nós. Pois para ter notas capazes,por causa da bolsa de estudo,que eu era pobrezinho,passei muitas noites com os pés mergulhados em água fria. Assim,não dormia. É que a dormir,não se aprende,como sabem.
Eu dava-te melhor nota,mas és muito rouco,dizia,contristado,o professor de canto coral. Vê se fazes operação. Para,de algum modo,compensar a nota que acabava por lhe dar,encarregava-o de ir comprar o jornal.
O menino tem jeitinho para a geografia,mas olha que para o desenho és um nabo.
Vou-lhe pôr aqui um problema que eu ainda não consegui resolver. Como era de esperar,o aluno não resolveu. Mas o professor,não se sabe porque estímulo,resolveu-o mesmo ali. Isso pô-lo tão satisfeito que mandou o pobre do aluno em paz,quer dizer,muito satisfeito,também. Serve isto para lembrar o que um certo professor disse,um dia, para muita gente o ouvir,se acaso o estivessem a ouvir lá na televisão. Que um verdadeiro professor é aquele que sai de uma aula também a saber mais.
Um antigo professor estava,em certa altura,lá para trás no tempo,a dirigir um serviço inteiramente novo,que ele mesmo tinha criado. O serviço ficava lá para o cabo do mundo. Um dia,recebe a visita de um amigo,que ele já não via há já uns anos. O amigo viera de carro,um carro acabadinho de sair da fábrica. Estás a viver bem. Sabes,meti-me aí nuns negócios. É o que está a dar,mas se quiseres há,também, lugar para ti. Não tenho jeito para negócios. Cada qual é para o que nasce,pelo que não se devia apoquentar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

FITAS

Necessitaram de encher um sector lá da praça de toiros e ele foi um dos premiados. Além de espectáculo de borla,ainda o gratificaram por umas palmas que,de vez em quando,teve de dar,ao mando de um apito estridente.
O espectáculo teve,também,cenas que ele nunca sonhara ver. Havia dois toiros,ou,melhor,um a valer,de se lhe tirar o chapéu,para a pega a sério,e o outro,uma pobre cabeça,que circulava num carris,onde o galã brilhou,como nunca tinha acontecido.
Mas o melhor estava guardado para o fim,um fim inesperado. O toiro a sério,talvez farto de andar ali às voltas,resolveu ir para casa,galgando a teia. E foi o bom e o bonito,e o salve-se quem puder. Os operadores não pensaram duas vezes. Primeiro,foram as máquinas,sem cerimónias,atiradas para a arena. Depois,foram eles. Um desastre,e dos grandes.
Tudo aquilo,para ele,parecia ter ficado por ali. Mas,a pouco e pouco,aquelas imagens foram fazendo o seu trabalho de sapa,sobretudo,aquela inolvidável pega simulada,e todo o monte de gente ali à volta,cada qual na sua função. É então assim que se fazem as fitas? E ele a julgar que tudo lá na tela se passava naturalmente,como na vida. E volvidas ainda muitas páginas,que o hábito é uma segunda natureza,aborreceu-as de vez,deixando de as ir ver.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

UMA JURA

Fora dali que ele saltara? O homem olhava,muito admirado,para o topo do muro do presídio. E não partira uma perna,ou as duas,que seria o mais certo? O que se sabia é que não quebrara osso,nem se magoara por aí além,pois rapidamente fugira dali,como se fosse perseguido por mil demónios,com destino bem marcado.
Coitado dele,tinha pisado o risco lá na tropa,talvez sem querer,que as coisas,por vezes,
acontecem,sem se saber como e porquê,e,para emenda,receitaram-lhe internamento
prolongado naquela masmorra. Mas logo que entrara,teria feito uma jura,uma jura para valer. Aqui é que eu não vou ficar o tempo que eles determinaram,que teria achado exagerado.
Nunca se soube como aquilo se passara,um feito dos grandes. É que o muro se alto era de fora,de dentro não o era menos. Havia também sentinelas,supostamente de olhos bem abertos.. O certo é que numa noite,muito provavelmente sem lua,que todos os cuidados são poucos,transpôs a séria barreira,e,depois,chegado ao chão,ala que se faz tarde.
A santa terrinha não estava longe e nela moravam os pais e a namorada. Aquilo deve ter sido uma grande surpresa,pelo menos. Teve tempo de matar saudades. Mas só isso,pois contra a vontade dele,e dos seus,certamente,alguém,que lhe adivinhara as intenções,se encarregou de o trazer,de novo,para aquele casarão sinistro

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O MENINO

Numa tarde,já quase noite,o menino disse à mãe. Oh mãe,hoje é dia 5 de Outubro,não é? É sim,filho. É o dia em que se festeja o nascimento da República. Faz joje anos. Então, porque é que um polícia levou para a esquadra um senhor que deu um viva à República? A mãe disse-lhe qualquer coisa,mas ele não entendeu.
Numa manhã,já perto do almoço,o menino pediu à mãe que lhe explicasse uma coisa. Oh mãe,o pai já me explicou,mas eu não percebi. Quem é o Soldado Desconhecido,o que está lá no jardim? A mãe respondeu,mas ele ficou na mesma.
Uns anos mais tarde,o menino entrou em casa a chorar. Oh mãe,o professor chamou-me marrão,à frente de muita gente,lá na cantina. Deixa lá filho. Deve ser por o filho dele ter pior notas.
O menino andava com azar. Então não é que passados uns dias,voltou a entrar em casa,num choro ainda maior? O que foi,filho? Oh mãe, o senhor José disse que eu era muito feio. Se eu não tinha pena de ser tão feio? Deixa lá,filho,o filho do senhor José deve ter notas ainda piores do que o filho do professor.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

BOMBO DE FESTA

Desgraças que estão sempre a acontecer quando se é o que se não pode deixar de ser. Fatalidade? Talvez sim,talvez não. Mas prossiga-se. Ele vivia apenas do seu humilde trabalho,numa época de apertar o cinto ainda mais do que era costume. E ele era muito,mesmo muito acanhado,se calhar por a calvice ter vindo para ficar,bem cedo,ainda mal deixara a juventude. Assim,desde muito cedo ,também,não largava o chapéu,para a encobrir. E os tempos em que lhe coubera andar por cá eram ainda muito atrasados.
Estava ele,pois,feito para vir a ser um rico bombo de festa,se acaso tivesse a pouca sorte de se cruzar com alguém que só gostasse de festejos. E quem havia de ser esse alguém? Pois foi precisamente o seu especialíssimo patrão. Ainda o pouparia se ele não tivesse mais nada,além de não ter cabelo. O azar foi esse,um azar dos grandes. É que a sua cultura ultrapassava,de longe,a do seu lindo patrão. E uma coisa destas o patrão não perdoava. Então,não querem lá ver,este pelintra,que de mim depende,a pretender saber mais do que eu? O atrevido,e não se sabe mais o quê. Mas eu vou-te mostrar que comigo não se brinca. E aproveitava todos os pretextos para o reduzir a pó.
E o pobre lastimava-se,quase chorava,junto dos amigos. Mas que mal lhe fiz eu? Sim,que mal? Ainda se não cumprisse,se mandriasse,ainda se compreende. Mas tenho o trabalho em dia,sou assíduo,o primeiro a chegar,e muitas vezes o último a sair. O que mais quer ele? Qualquer dia despede-me,é o mais certo,e, depois,o que é vou fazer? Sem padrinhos,fico para aí desempregado,e eu que não tenho mais nada a que me agarrar.
Tanto se lastimou,tanto viu a sua vida sem saídas,que acabou por adoecer de doença ruim. A sua pobre cabeça não suportou tanto amesquinhar,tanto se sentir um nada,que uma leve aragem empurraria para a valeta.

domingo, 4 de janeiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - I

Cortava o coração. O pai remexia,nervosamente,na carteira,com lágrimas caladas prestes a brotarem,e de lá tirou,a muito custo,uma nota pequenina. O filho aceitou,mas compreendeu que não devia mais bater àquela porta. Seria uma violência ou uma impiedade.
Que fazer? Olhou á sua volta angustiado. A quem recorrer? Por vergonha,ou por orgulho,tanto faz,não se dirigiu a algumas pessoas que lhe podiam dar a mão,ali perto. Foi para longe esmolar. Um estranho recolheu-o por uns dias e outro por uns anos. Felizmente que aparecem,às vezes,como por milagre,bons samaritanos.
A estrutura frágil das entranhas não suportou transe assim,quase se desmoronando. Fez apelo a energias escondidas e lá se recompôs um tanto. Ficou,porém,durante longo tempo,muito limitado nos gestos,parecendo que uma corda de cem nós o apertava;alguns foi desfazendo,com grande esforço,mas outros vieram substituí-los. Há vidas enredadas.
Como é de prever,não teve percurso pacífico. Entraves inesperados,porque ingénuo,surgiram-lhe a cada passo:pistas falsas,lobos encarniçados,armadilhas astuciosas,cascas de banana em sítios escolhidos,intrigas subtis,traições descaradas,mentiras clamorosas,invejas incontidas. Quase foi marginalizado. Pelo menos,assim o dava a entender o isolamento de grande parte da caminhada.
Nunca voltou,por tudo isto,a ser o mesmo dos tempos da juventude. A promessa não se concretizara. Lá dentro,bem no fundo,habitavam,também,marcas de feridas passadas,que doíam sempre,por vezes,muito. Cada um tem a sua cruz,como é uso dizer-se,talvez à sua medida,mas cruz pessoal,intransmissível.

UMA EXPLICAÇÃO

Os textos que ARG vai dar a conhecer requerem uma explicação. Vieram parar-lhe às mãos por um mero acaso. Foram encontrados, não numa farmácia,como A Família de Pascoal Duarte,de Camilo José Cela,mas num canto,algures por aí,já se não lembra o ARG onde.
Ao contrário,porém, do que atrás sucedeu,não sofreram qualquer alteração. Vão ser transcritos tal como estavam,sem tirar uma vírgula. Como não traziam título,mas apenas números,teve de se lhes arranjar,pelo menos,um. E assim,pareceu ao ARG,que TEXTOS DE UM ACASO,abrangendo-os a todos,não fica nada mal.

sábado, 3 de janeiro de 2009

PASSARÕES

O moço já trazia a lição estudada. Até ali,viera de comboio,um comboio ronceiro,como eram quase todos os daquele recuado tempo,e,naquela altura,tinha ali uma barca à sua espera. Mas que barca e que ancoradouro,tão desconjuntados eram. Uma e outro davam mostras de não poderem resistir a um inverno mais rigoroso. Pelo menos,assim pensou. É que aquilo eram penedos por todo o lado. Só que ele não sabia o que veio a saber mais tarde. Aquele era um local abençoado,por ter ali atravessado uma santa.
Naquela noite de verão,uma noite calmosa que apenas as estrelas se encarregavam de alumiar, e um ou outro pirilampo,tudo correu como devia ser. Mesmo assim,só quando se viu na outra margem é que respirou melhor. A seguir,tinha pela frente um bom par de quilómetros,sempre a trepar. Mas ele era novo e as cigarras tiveram pena dele,acompanhando-o até ao topo.
Era a sua primeira grande aventura. Muitas outras se sucederam,algumas sem aviso prévio,
como que à queima-roupa. Mas há que estar preparado para tudo. Depois se verá. Em todas elas se notaram traços da primeira. Ele foram os transportes e as pernas,ele foram as ladeiras mais ou menos íngremes,ele foram as noites,algumas escuras como breu,ele foram as pedras e os pedregulhos.
Cigarras é que nem uma. Passarões é que não faltaram,o que não é bem a mesma coisa. Para compensar,teve,mais do que uma vez,anjos a ampará-lo,ou talvez um apenas,que os anjos sabem disfarçar-se.

ARMANDO GASPAR GARDEN - I
















From the blog OLHARES DA NATUREZA





sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

IMAGENS DE NISA - PORTUGAL

Do Flickr,by Portuguese_eyes
Do Flickr,by Portuguese_eyes

Do Flickr,by Rui Moura


Do Flickr,by Rui Moura



Do Flickr,by vida de vidro




Do Flickr,by jo campos





CASTELO DE ALMOUROL - PORTUGAL


Flickr The Commons
Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian
Fotografias,sem data,produzidas pelos Estúdios Mário Novais:1933-1983

UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - XV

85 - Algumas considerações sobre a capacidade de troca catiónica dos solos. 1986

86 - Formas de azoto do solo e seu dinamismo. 1986

87 - Taxas de mineralização do azoto orgânico do solo. 1986

88 - Relação dos teores dalgumas formas de azoto dos solos com as respostas de milho grão e de milho forragem à adubação azotada. 1986. Em colaboração.

89 - Sobre a fertilização do amendoim. 1986

90 - As leguminosas e a acidificação do solo. 1986

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

CASTELO DE VIDE - PORTUGAL






Flickr The Commoms
Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian
Fotografias,sem data,produzidas pelos Estúdios Mário Novais:1933-1983