segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

TEXTOS DE UM ACASO - 2

O moço não resistira. A doença do pai podia ter esperado mais um tempo,pois ele encontrava-se muito em baixo,mas elas são assim,acontecem,não têm data marcada. Tivera,há pouco, de travar uma dura batalha e estava sem forças. Ao contrário do que sucedeu,ser ele a acudir,precisava ele de ser amparado. Mas teve de ser,pois não havia mais ninguém disponível para o substituir. E foram semanas de grande expectativa e de grande desgaste. De constituição débil,claudicou. Depois do pai se ter recomposto,chegara a vez dele.
Sabia que não se podia queixar e assim teve ele próprio de tomar conta de si. O mal necessitava de repouso e de leite. Para isso,refugiou-se num quarto de pensão,já sua conhecida,que se prestou a ajudá-lo,neste transe.
Ele bem quis fazer tudo sem que o pai tivesse disto conhecimento,para o poupar a mais um desastre,mas,não se sabe como,o pobre velho acabou por descobrir. E foi visitá-lo.
Não queiram saber daquele encontro. O filho,ali estendido numa cama de pensão,a leite,longe da família. Mas com ela não estaria melhor.
O que aquele pobre velho deve ter sofrido. Era o filho em quem ele depositara as maiores esperanças, esperanças de uma vida melhor. E logo adoecera de um mal que lembrava o seu,e que presagiava um futuro nada bom para o filho e para ele. Deve ter ali concluído que daquele filho não podia esperar muito. Fora,afinal,uma carta errada em que jogara. Mas a isso já ele estava acostumado. A sua vida,afinal,não passara de uma sucessão de desaires,uma dura realidade,e não um sonho triste. Nascera com mau signo,à semelhança de muitos,sabe-se lá porquê.
Quando se despediu do filho,alguém ouviu o que ele disse à empregada que mais o acompanhava: ele é um bom rapaz. Como que a pedir-lhe que o tratasse bem, que ele merecia. Talvez tivesse querido recompensá-la,mas não estava em condições de o fazer.

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