sábado, 17 de janeiro de 2009

MADRAÇO

No vasto largo,muitos soldadinhos,futuros defensores da ordem e da pátria,marchavam mais ou menos garbosamente. Também,com aquela tenra idade,não se lhes podia exigir muito. Tinham,
pois,de lhes desculpar muita coisa que não estivesse a sair bem. Com o tempo,lá haviam de chegar onde se queria que eles fossem.
Nem todos,porém,andavam lá. É que um deles,vá-se lá saber porquê,estava feito espectador,sentado numa enorme bancada apinhada de gente. Fora,na verdade,uma grande falta a sua. O seu lugar era lá em baixo,ao lado de tantos,preparando o porvir,e não ali,feito um refinado madraço ou um sonso do mesmo calibre.
Uma senhora,que ele já tinha visto a fitá-lo,com olhos carregados de censura,acabou por não se conter. O que está o menino aqui a fazer? Que manha arranjou para se furtar à sua obrigação,
que era o de andar lá em baixo com os outros? Sim,que desculpa inventou? Ele há cada não presta,e mais mimos no género,que aquilo de modo nenhum se podia tolerar.
A voz da senhora era forte,e alta,palo que a ouvia meio mundo. O pobre moço,muito encolhido,
muito envergonhado,o que não era para menos,ainda se quis escapulir,para se furtar àquela vergonha,mas por onde?,se não cabia uma mosca ali à sua volta. O que lhe valeu foi ela ter dado conta do seu rebento no meio de toda aquela tropa e esquecer-se completamente dele.
Mas qual teria sido o motivo de tão gravíssima ausência? O mais provável foi ele ter chegado tarde e,para castigo,não o deixaram marchar.

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