quinta-feira, 30 de outubro de 2008

OS AMIGOS SÃO PARA AS OCASIÕES

Toca o telefone. O "amigo" atende. Olha lá,não me podes dizer a morada de fulano? Ainda há dias estiveste com ele,deves saber. Espera um momento,que é só ir ali ver. O momento passou,um largo momento. Olha lá,tu não sabias ir à lista?
Ainda bem que te encontro. Estou a precisar de um quarto aqui perto. Como conheces este bairro,és capaz de saber. Vens mesmo na boa altura. Vais ficar como em tua casa. Era uma casa... É escusado classificá-la.
Vens mesmo a calhar. Aos anos que se não viam. A minha mulher está a precisar de uma pele,dessas que há lá para onde tu vais. Aí são mais baratas. Olha que se não ma trouxeres nunca mais te falo. Receber, estão sempre prontos. Dar,é coisa doutro mundo.
Estou aqui tão satisfeito.Vê lá tu que o professor disse que eu colaborei num trabalho de muito préstimo. O professor sempre foi muito exagerado.
Muito me contas. Mas isso não é nada,comparado com o que se passa com os meus. Todos uns génios. Não há outros.
Que sorte tu tiveste. Já reparaste nas perguntas que te fizeram? Assim também eu.
Vou-te contar o que há tempos me sucedeu com fulano. Pode lá ser. Ele era incapaz,conheço-o bem. Outro exagerado.
Olha que na net há montes de coisas. Pois sim,mas estão apenas as que são lá postas.
Quero-te dizer que continuo com o blogue. Ah,sim? Mas quem é que te lê?

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

À BOLEIA

Para atravessar aquela ponte,até os miúdos tinham de pagar. Cabia-lhes meio tostão. Não era muito,mas uma fortuna para eles. No sentido de compensarem,de algum modo,o forte rombo nas magras carteiras,procuravam ir à boleia. Sempre aparecia uma alma caridosa.
Havia preferências,claro. O ideal era uma alma de automóvel. Mas quando não aparecia ou não estava para isso,lá tinham de ir de carroça ou de camioneta de carga. Quanto às carroças,
tinham, também,os seus gostos. Daquelas puxadas por parelhas de mulas,só em último recurso. É que o diabo das mulas não perdiam a mania de andar em ângulo quase recto,como que zangadas,expulsando-se. Mas com cavalos,nem sempre se ia sossegado.
Alguns perdiam a cabeça,ao olharem ou sentirem as águas a correrem lá por baixo,e era um monte de trabalhos. O condutor,coitado,era obrigado a descer e ir à pata,a seu lado,segurando as rédeas com firmeza. Os miúdos,coitados deles,também,nestes transes,ficavam muito tristes,pois lá tinham de fazer uso das pernas.
Em camioneta de carga,só junto à cabina. É que a ponte era de travessas de madeira mal unidas. E assim,indo atrás,a um salto mais exagerado,arriscavam-se,na descida,a já não encontrarem transporte.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

AVIS - PORTUGAL






















Do Flickr Todas as imagens by Portuguese_eyes
Pecando por tardios,quero deixar aqui,em primeiro lugar, o meu louvor pelo extraodinário e
portuguesíssimo trabalho de Portuguese_eyes e,depois,os meus muitos agradecimentos pela
larga utilização que tenho vindo a fazer das suas belas e abrangentes imagens. Muito obrigado.
"Segundo reza o mármore de uma lápide que ainda se vê na porta de S.Roque,a vila de Avis foi fund. em 1214 no tempo dum mestre Fernão....
A ordem militar ,que desde o reinado de D.Afonso II devia denominar-se de S.Bento de Avis,foi fund. por D.Afonso Henriques pelos anos de 1162. Foi a Coimbra que o legado do papa(o bispo de Ostia) mandou o abade de S.João de Tarouca,da ordem de Cister,para que,a pedido do rei,desse à nova ordem a"religiosa e regular observância". Presume-se que foi na rua da Freiria,em Coimbra,que primeiro viveram em comunidade os novos cavaleiros;mas depois da conquista de Évora por Geraldo sem Pavor e da vinda a Portugal,cerca de 1166,de alguns freires espanhóis de Calatrava,a sede da ordem foi transferida para o grande centro alentejano,até que em 1211 D.Afonso II doou aos freires o lugar de Avis,com a condição de o povoarem e de nêle levantarem um castelo. Assim,e depois de passar por diversas fases,com designações diferentes(Nova Milícia em Coimbra,Milícia de Évora da ordem de Calatrava,Milícia de Avis e de Calatrava),tomou definitivamente o nome de Ordem militar de S.Bento de Avis por que ficou conhecida.
Durante os três primeiros séculos foi a ordem dirigida por mestres....O primeiro verdadeiro mestre de Avis foi,porém,Fernão de Anes(1196-1219),o edificador da vila e do castelo.....;o 20º,D.João,o mestre de Avis....;e por fim o último e 21º mestre,Fernão Rodrigues de Sequeira(1387-1433),grande amigo de D.João I,....De então em diante cessa o governo dos mestres eleitos pelos capítulos da ordem,para começar a dos governadores e administradores escolhidos pela coroa...
Do castelo(mon.nac.),fund. em 1223,restam três altas torres bem conservadas,entre elas a de menagem...
A igreja conventual,de uma só nave,reconstr.,como o convento,nos primeiros anos do séc. XVII...
O portal, de mármore,com frontão quebrado,encimado pelo escudo nacional,tem a data de 1717. Logo à entr. e à dir.,no baptistério,o sarcófago do último mestre de Avis,Fernão Rodrigues de Sequeira(m. 1433),enorme,de belo mármore,...Na 1ª capela do lado da epístola,revestimento total de belos azulejos polícromos,a amarelo e azul,de tapete nas paredes,de pinha ou maçaroca nas abóbodas....A capela-mor constr. no reinado de D.Pedro II(ca.1694),ostenta um magnífico retábulo de talla barroca,com parras,serafins e aves debicando cachos,uma das melhores obras do seu género e época existentes em Portugal.
A sacristia,vasta,coberta de abóboda artesoada,...,é a parte mais antiga do mosteiro:ainda do séc.XVI....
Descendo da Praça Velha,pela rua de S.Roque,vai-se ter à tôrre do mesmo nome com a lápide da fundação de Avis...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927







INSÓNIA ALENTEJANA

Pátria pequena,deixa-me dormir,
Um momento que seja,
No teu leito maior,térrea planura
Onde cabe o meu corpo e o meu tormento.
Nesta larga brancura
De restolhos,de cal e solidão,
E ao lado do sereno sofrimento
Dum sobreiro a sangrar,
Pode,talvez,um pobre coração
Bater e ao mesmo tempo descansar...

MIGUEL TORGA
Alentejo Não Tem Sombra
Eugénio de Andrade
Edições ASA
2002

INCORRIGÍVEL

Logo no primeiro dia,lá na estância de férias,punha os que ela apanhava a jeito ao corrente da sua trepidante vida. Para abrir,era doutora. Mas para o ser,o que ela tinha passado não o desejava ao seu maior inimigo. É que já não era nova,muito longe disso,quando pensara em tal. Mas alimentara sempre esse sonho durante décadas. E um dia,chegara ocasião propícia e ela agarrara-a com todo o seu querer e desembaraço. Depois,não era uma doutora para brincar. Desfazia-se em tantos trabalhos,que estava ali que nem se sentia. E indicava-os,e narrava-os. Das histórias dos outros não queria saber.
Tudo isto no primeiro encontro,no primeiro ano. Nos seguintes,a coisa começava sempre com um aviso. Desta vez,venho só para descansar. Assim fazia no primeiro e no segundo dias. Levantava-se tarde,vinha tarde para as refeições. Mas podia ela lá resistir,podia ela lá desperdiçar aqueles magníficas oportunidades de mostrar os seus feitos,os seus muitos triunfos. E era um desbobinar interminável,sem intervalos. Incorrigível.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O POVO É SÁBIO OU LÁ QUEM FOI

Muito tens,muito vales,nada tens,nada vales.

Longe da vista,longe do coração.

Quem tudo quer,tudo perde.

O coração está onde tens a riqueza.

A galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha.

domingo, 26 de outubro de 2008

UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - V

25 - Algumas considerações sobre a disponibilidade do potássio nos solos. 1968

26 - Sobre a fixação do potássio e do amónio nos solos. 1969

27 - Potássio de troca de vinte e três solos segundo dois métodos de extracção. 1969

28 - Resultados de ensaios em vasos sobre a disponibilidade do potássio nos solos. 1969

29 - Transformações de potássio nalguns solos portugueses. 1969

30 - Efeito do potássio e do sódio na produção e na composição do azevém. 1971

MAGRO CHÃO

Aquilo era uma carga de trabalhos. Terra havia,mas a rocha granítica aflorava a cada passo. Os cuidados que eram obrigados a ter para não molestar as aivecas. Volta não volta,lá se ia uma relha. Eram curvas e contracurvas,pois raramente se via pela frente tracto sem tropeços. Mas a vontade e a necessidade de arrancar daquele magro chão alguma coisa que se visse eram de respeito. Fora o que lhes coubera em rifa e ainda tinham de se dar por muito afortunados,já que tantos nem um quintalito lhes saíra.
É claro que isto não dava para manter a família como alguns queriam. E assim,lá iam esgravatar por outras bandas,fazendo uso de dons que Deus lhes dera. Uns,mais audazes,até se atreviam a ir para longe por temporadas.
Mas quando chegava a ocasião da ceifa ,lá se arranjavam para estarem presentes. E aquela rocha que tantas aflições lhes trouxera,quando das sementeiras,servia-lhes,agora,de eira. Lages não faltavam,com as dimensões e a forma requeridas. Para o grão não se quebrar com o bater dos malhos,tinham de os revestir com uma película elástica. E não havia melhor protecção do que a fabricada com bosta de vaca. Era prática que se perdia no tempo,talvez do tempo dos árabes ou de um mais detrás,e que nunca tinham abandonado. Não consta que alguma vez o pão fosse rejeitado por isso. Saber-lhes-ia sempre a coisa caída do céu.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

UMA PALESTRA

As esperanças que uma notícia de jornal pode engendrar. Estava ali a sua salvação,naquela meia dúzia de linhas,em página interior,que quase lhe iam escapando. E ele que já se via sem saídas,pois esgotara todas as portas conhecidas,que não lhe puderam valer.
A notícia dava conta de uma palestra que lhe parecia ser coisa de alta personagem,que era,nem mais nem menos,um seu antigo companheiro de brincadeiras,lá na santa terrinha,mas que já não via há muito. Pelos vistos,devia estar a nadar em dinheiro. Ele não iria recusar,certamente,uma ajuda ao seu velho amigo.
Pegou na lista telefónica e lá se encontrava o que pretendia. A conversa tinha de ser de viva voz,pelo que se apressou a bater-lhe à porta. E foi mais uma porta que se lhe fechou. É que ali as coisas não eram uma mar de rosas.
Como é que ele iria imaginar?,se aquela notícia vinha lá no jornal,que ele bem a lera e tornara a ler. É bem certo que nem tudo o que luz é ouro,e era de muito ouro que ele estava precisando.

RESERVA NATURAL DO PAÚL DO BOQUILOBO,GOLEGÃ/TORRES NOVAS - PORTUGAL
















Do Flickr Todas as imagens by Muchaxo





quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O ZAMBUJEIRO

Deus disse: "O Zambujeiro nasça."
Viril,rompeu da terra o Zambujeiro.
O tronco é o dum homem das montanhas.
São mãos de cavador seus ramos. Só as folhas,
delicadas,suaves... Pela noite,
quando tudo se cala,mesmo os pássaros,
o Zambujeiro canta...

SEBASTIÃO DA GAMA
Pelo Sonho É Que Vamos 4ª Edição
Com um prefácio de Ruy Belo
Edições Ática
1992

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

ORIGEM DOS JAVALIS

"Cristo e São Pedro na sua peregrinação pelo mundo,vendo e julgando as cousas,encontraram quatro bacorinhos nédios e lustrosos em um descampado.
- Coitadinhos,por aqui perdidos.
- Toma conta deles,Pedro,porque com certeza te digo,que não têm dono;dão-se a criar de meias aí em algum casal que encontremos no caminho.
São Pedro,sempre aproveitado,lembrou-se do ditado: quando te derem o bacorinho,bota-lhe logo o baracinho,foi tocando com uma varinha os quatro leitões; chegaram a um casal,onde estava uma mulher à porta,e São Pedro propôs-lhe o contrato.
- Você toma-me conta destes animaizinhos ,trata-os e quando daqui a um ano por aqui passarmos fazem-se as partilhas.
Os bacorinhos cresceram,engordaram,já davam um grande lucro na feira. Eis que no fim do ano passaram os dois peregrinos; a aldeã assim que os avistou,foi esconder no cortelho os dois porquinhos mais gordos. São Pedro tocou ao ferrolho; apareceu a mulher.
- Cá estão dois porcos bonitos; os outros dois deu-lhes um ar e morreram.
O divino Mestre afasta os olhos da mulher,e disse como sentença:
Pois estes dois que aqui estão,
Só teus e nossos serão;
E os que tens além fechados
Por essas terras irão,
E em feras serão tornados. "

(Alentejo)

TEÓFILO BRAGA

Contos Tradicionais do Povo Português
Volume I 2ª edição
Publicações Dom Quixote
1995

terça-feira, 21 de outubro de 2008

BARRAGEM DO POIO,NISA - PORTUGAL

Imagem por Armando Gaspar Do Blogue OLHARES DA NATUREZA

BARRAGEM DE FRATEL,AMIEIRA DO TEJO/FRATEL,NISA - PORTUGAL

Imagem da Wikipédia
Imagem por Armando Gaspar Do Blogue OLHARES DA NATUREZA

APETITES

O dia estava soalheiro,à semelhança da bolsa de muitos. Assim,as estradas eram como rios caudalosos a confluir no mesmo mar.E o que fazia mexer tanta gente? Um festival de gastronomia. No ar, pairavam aromas que estimulavam os apatites.
Muito perto,repetia-se similar desassossego. Podia dizer-se que ali havia sempre festa,pois calhaus não faltavam. Um pouco mais além,era um frenesim da mesma família. Filtrados pelas paredes,chegavam sinais de bodas de arromba.
Era tudo isto o resultado da bondade do ano. As terras tinham-se desentranhado em tomate,uvas,milho,arroz e outros mimos. Abençoda chuva que enchera barragens e algares. Pena era que o mundo não fosse todo assim.

UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - IV

19 - Relatório dum estágio no Departamento de Solos da Escola de Agricultura da Universidade de Newcastle-upon-Tyne. 1965

20 - Sobre a caracterização do estado do potássio nos solos. 1965

21 - On the potassic fertilization of grasslands and forage crops. 1966

22 - Potencial e capacidade dalguns solos em relação ao potássio e sua variação com o cultivo. 1966

23 - O potássio na nutrição das plantas. 1966

24 - Libertação e absorção de potássio nalguns solos. 1967

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

RUÍNAS DO PAÇO DOS NEGROS,RAPOSA,ALMEIRIM - PORTUGAL




Do Flickr As três imagens by Portuguese_eyes
"...Raposa(na marg. N. da ribeira de Muge houve um paço real,actualmente em ruínas,chamado dos Negros,a que se refere Damião de Góis na Crónica de D. Manuel,e que este monarca fez construir ou reedificar)."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927


POEMA PARA FRANCISCO BUGALHO

Pra onde te levaram?
Aqui é que é o Sol,o orvalho,a esteva.
Aqui é que os sobreiros e os teus versos
dizem quem foste.

O Céu é para os mortos.
Tua égua lazã,tua seara,
teu gado,tua vinha,
bem sabiam que um vivo é que os sustinha.
O Céu é para os mortos ,Lavrador!

Entre olivais,montados, trigos novos,
ando a lembrar-te.
Saudosamente aperto entre os meus dedos
húmida,negra,cheia de promessa,
terra que amaste.
O Céu é para os mortos,Lavrador!
- : Nesta terra fecunda é que ficaste.

SEBASTIÃO DA GAMA
Pelo Sonho É Que Vamos
4ª Edição Com um prefácio de Ruy Belo
Edições Ática
1992

MEIO-DIA

Céu baço. Quente quebranto
se espalha,no longe,enquanto
cantam cigarras à roda...

E parou-se a vida toda;
porque o Sol tudo queimou.
Só,no ar quente,pairou
um negro corvo e poisou
sobre o montado sangrando,
nos troncos rudes despidos...

Redobram roucos zumbidos
de moscardos que passando,
em cega-rega.adormecem;
entorpecendo os sentidos...

... Sobre os meus olhos cansados
e cerrados
há véus de chamas que descem...

FRANCISCO BUGALHO
Alentejo Não Tem Sombra
Eugénio de Andrade
Edições ASA
2002

domingo, 19 de outubro de 2008

SEM CEIA

Diz o velho anexim,com imensa verdade:
Quem tiver muitos filhos
E pouco pão
Tome-os de mão e diga-lhes
Uma canção

Um pobre homem sobre a desgraça de achar-se viúvo de repente,viu-se com uma caterva de filhos sem ter com que os sustentar. Com a fraca jorna e alguma caridade dos vizinhos que conheciam a sua miséria,ia amparando as crianças. À lareira,os filhos cercavam-no,um chorava,outro pedia pão,aquele dizia que estava a cair com fome,e o pobre pai para os calar,começava a alentá-los com uma pequena esperança risonha:
- Hoje não tive quem fiasse uma broa;é preciso ter paciência. Os ventos são como a sorte,mudam,e amanhã posso ter um carneiro,que bem assadinho para o jantar...
- Ó pai! há-de-me dar um bocadinho da perna?
- Com certeza,e com duas batatinhas.
- Eu,dizia um outro,eu queria...(Já lhe custava falar).
- Sim,guisado,também é muito bom.
- E que tenha muito molho,acode outro,para eu molhar o pão.
- E até fazer fatias grossas,acrescentava o pai.
- Pois eu,disse o mais pequeno,hei-de esfarelar o pão no molho.
- Olhe cá,eu gosto mais de batatas.
- Aquele quer comer tudo! (Põe-se a choramingar).
- Não vai a afligir,filhos! Também se faz um bom arroz com a fressura de carneiro.
- Que bom! e arroz! de que eu gosto tanto.
- Também me há-de dar arroz,pai?
- Um prato bem cheio?
- Está dito,interrompeu o pai. Agora é preciso que sosseguem;durmam,durmam.
Daí a pouco era tudo silêncio naquele lar desvalido,embaladas as crianças na grata ilusão que anestesiara aqueles estômagos vazios. E os vizinhos que escutaram a conversa do carneiro assado e guisado com batatas,murmuraram entre si:
- Vai recebendo as nossas esmolas,e trata os filhos a carneiro assado e guisado com batatas.

(Alentejo)

TEÓFILO BRAGA
Contos Tradicionais do Povo Português
Volume I 2ª edição
Publicações Dom Quixote
Lisboa 1995

sábado, 18 de outubro de 2008

O MEU ALENTEJO

Meio-dia: O sol a prumo cai ardente,
Doirando tudo. Ondeiam nos trigais
D'oiro,de leve...docemente...
As papoilas sangrentas, sensuais...

Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o oiro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros...

Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor,

Onde há artista de saber profundo,
Que posssa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!

FLORBELA ESPANCA
Poesia Completa
Bertrand Editora
1994

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

FLUVIÁRIO DE MORA - PORTUGAL

Do Flickr,by Browserd
Do Flickr,by Browserd

Do Flickr,by Browserd


Do Flickr,by Browserd



Do Flickr,by Browserd




Do Flickr,by Browserd





Do Flickr,by Browserd






Do Flickr,by Portuguese_eyes







Do Flickr,by Portuguese_eyes








Do Flickr,by Portuguese_eyes









Do Flickr,by vueloenbadajoz










quinta-feira, 16 de outubro de 2008

BARRAGEM DO MARANHÃO,AVIS - PORTUGAL








Do Flickr As quatro imagens by Portuguese_eyes


UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - I I I

13 - O azoto do ar na produção dos adubos azotados. 1962

14 - Libertação de potássio num solo derivado de granito. 1963

15 - Fixação de potássio em relação com as quantidades aplicadas nalguns solos. 1963

16 - Influência do hidróxido de cálcio nas perdas de potássio por lavagem num solo derivado de xisto (ensaio laboratorial). 1964

17 - Aspectos da química do potássio nalguns solos. 1964

18 - A matéria orgânica e a assimilação dos elementos nutritivos. 1964

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

OS DOIS MIRANTES

Não tivera a vida que ela sonhara. Coisas que acontecem,vá-se lá saber porquê. Mas acabara por se conformar. Depois,viera-lhe uma compensação inesperada.
É que,para além do corpo,há a alma, e esta ficara,em boa parte,lá onde fora uma menina feliz. E esse "eldorado",esse "paraíso perdido",passara ela a tê-lo ali bem na sua frente, do mirante da sua penúltima casa. Consolava-a vê-lo. Era como se o tivesse de novo ali,era como se o não tivesse deixado.
E sentava-se na varanda sempre que podia. O panorama era amplo,mas não abrangia todos os sítios das suas belas recordações,talvez das mais lindas. Um dia, poderia também os ter a seus pés.
E esse dia chegou,quando a levaram para a sua última morada,um outro mirante.

OUTONO















































Do Flickr Todas as imagens by starrynight








MENIR DA MEADA,CASTELO DE VIDE - PORTUGAL


Do Flickr,by jo campos

COINCIDÊNCIAS

Começara cedo o moço a refrega da vida,longe de sua terra,um pouco para além de mil e novecentos. Tivera de ser,pois lá em casa eram cinco irmãos,a mãe enviuvara e os teres não abundavam. Não teria sido o primeiro,muito longe disso,e vontade de lutar não lhe escassearia.
Descera uma longa ladeira até ao Tejo,atravessara-o de barca,coisas bem conhecidas,metera-se no comboio,ali perto,mudara para outro e apeara-se na estação que servia o local de destino. Faltavam ainda uns bons quilómetros para lá chegar. Teria ido de diligência,o transporte usual da altura.
Dela,teria avistado um alto morro onde se encarrapitava a terra onde ia trabalhar. Lá dentro,não teria estranhado muito o que vira,sobretudo,o castelo e a igreja. Achá-los-ia maiores,o que era verdade. É que mesmo em frente lá da casa onde nascera havia uma igreja,uma igreja modesta,de aldeia,e a poucos passos,um castelo,que,ainda que menos imponente,tinha muito para contar.
E coisa notável,o que não saberia,é que ambos os castelos tinham tido por senhores,senhores da mesma família,de alto significado. Quase se podia dizer que não tinha mudado de terra,tais as coincidências. Era caso para dizer que começava bem.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

VALE DE LOBOS,ALCANENA - PORTUGAL

"Vale de Lôbos,onde passou os últimos anos da sua vida,entregue à cultura das árvores e ao fabrico do azeite,o grande historiador Alexandre Herculano,que ali m. em 1877.
Fialho de Ameida descreveu o trajecto até Vale de Lôbos:
"Sebes de sabugueiros,murtas,troviscos,bordando as barreiras e extremando as pequenas rampas de milho e trigo espigado...."
O cadáver de Herculano esteve sepultado no pequeno cemitério de Azoia de Baixo desde 13 de Setembro de 1877 até 27 de Junho de 1888,dia em que se fêz a sua trasladação para os Jerónimos"

RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927

domingo, 12 de outubro de 2008

VITELO LINDO

Muito longe estava o miúdo de pensar que um dia havia de entrar muitas vezes naquele casarão. Nem olhava bem para ele. Devia ser da laia da rampa que lhe estava mesmo em frente. Lá em baixo habitavam lobisomens. Eram capazes,até,de o visitar.
Assim,quando por ali passava,e tinha de ser quase todos os dias,pois ficava no caminho da escola,era sempre a correr,não fossem os tais bichos maus agarrá-lo para o levar lá para o escuro buraco.
Pois quando mais crescidinho,tendo perdido o medo aos lobisomens,entrou lá muitas vezes. É que havia lá muitos livros,daqueles de muitas aventuras,como os de Dumas ou de Terrail. Depois,as paredes da sala atraíam também, por causa de quadros que lá se viam. De dois,nunca mais se esqueceu,um vitelo lindo do Tomás da Anunciação e uma senhora baixinha,sentada ao piano,com muita gente à volta. A saia cobria-lhe os pés. O busto,para equilibrar, estava muito desguarnecido.
Mas as voltas que uma vida dá. Como de uma rejeição se passou quase a uma paixão.

QUADROS DE VÁRIAS ESCOLAS NA CASA DOS PATUDOS - I I

*"A par destas obras notáveis de artistas portugueses,também as escolas estrangeiras se acham representadas largamente.
Assim,a escola inglesa está representada por Reynolds(um admirável retrato de Senhora),Bonnington,John Brown e Dobson(Retrato da rainha Henriqueta de França,mulher de Carlos I de Inglaterra);a escola holandesa por Peter Hooch,a Compra das joias,que pertenceu à colecção Wagram,Van Bloemen,e entre outros por um belo quadro,os Pastores,da escola de Rembrandt;a escola flamenga por um quadro A Virgem e o menino ,atribuído a Memling,por Martin de Vaz e Carlos de Haes;a escola francesa,entre outros,por Philippe de Champaigne,Delacroix,Daubigny,Geoffroy,Madeleine Lemaire,Rosa Bonheur,Beffani,Harpignies,Rafaelli,Mirbach,René Menard e Paul Chabas;a escola espanhola por Emílio Sala,Eugénio Lucas,Romero de Torres,Diaz,Villegas e Domingo,além dos da escola antiga,como Zurbaran(Santa Cecília) e ainda dois quadros do séc.XVI,o Calvário e a Família Sagrada,e finalmente, a escola italiana por Caravagio,Luca Giordano,Crespi(A Virgem e o menino) e por um Cristo do séc. XVI. Abundam além disso as porcelanas de Sèvres e de Saxe,os azulejos hispano-árabes,os medalhões,as peças cerâmicas do Rato e da Bica do Sapato,os bronzes de Chapu,de David,de Mercié e de Frémiet. Ultimamente a aplicação dos azulejos do convento de S.Francisco da Chamusca(Conventinho) deram grande realce à sala de D.João V e ao jardim que dá sôbre a estrada.
O jornalista francês Joseph Galtier,que esteve em Portugal em 1907,ao descrever numa das suas crónicas para o Temps,a visita que nessa ocasião fêz à Casa de Patudos ,dizia:Senti nessa casa a mesma impressão,ou melhor,a mesma emoção estética que senti em Munich na casa de Leubach e em Milão no Museu Poldi-Pezzoli."

RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
*por Almeida Moreira

ROSA,UMA FLOR E UM NOME - II

Do Blogue OLHARES DA NATUREZA ,by Armando Gaspar
Do Flickr,by PAL1970

Do Flickr,by Lumiago


Do Flickr,by Esteban Cavrico



Do Flickr,by _Zahira_




Do Blogue OLHARES DA NATUREZA, by Armando Gaspar