quarta-feira, 29 de outubro de 2008

À BOLEIA

Para atravessar aquela ponte,até os miúdos tinham de pagar. Cabia-lhes meio tostão. Não era muito,mas uma fortuna para eles. No sentido de compensarem,de algum modo,o forte rombo nas magras carteiras,procuravam ir à boleia. Sempre aparecia uma alma caridosa.
Havia preferências,claro. O ideal era uma alma de automóvel. Mas quando não aparecia ou não estava para isso,lá tinham de ir de carroça ou de camioneta de carga. Quanto às carroças,
tinham, também,os seus gostos. Daquelas puxadas por parelhas de mulas,só em último recurso. É que o diabo das mulas não perdiam a mania de andar em ângulo quase recto,como que zangadas,expulsando-se. Mas com cavalos,nem sempre se ia sossegado.
Alguns perdiam a cabeça,ao olharem ou sentirem as águas a correrem lá por baixo,e era um monte de trabalhos. O condutor,coitado,era obrigado a descer e ir à pata,a seu lado,segurando as rédeas com firmeza. Os miúdos,coitados deles,também,nestes transes,ficavam muito tristes,pois lá tinham de fazer uso das pernas.
Em camioneta de carga,só junto à cabina. É que a ponte era de travessas de madeira mal unidas. E assim,indo atrás,a um salto mais exagerado,arriscavam-se,na descida,a já não encontrarem transporte.

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