terça-feira, 23 de setembro de 2008

A REBOQUE

O homem metia dó. Embora não fosse velho,longe disso,via-se bem que não era carruagem para aquela locomotiva. É que o seu cão não era um qualquer. Dava-lhe quase pelo peito e estaria na sua plena força.
Aquela manhã de domingo estava de sol,mas um bocado fresca. Mais uma razão para o animalzinho querer sair de casa,pois lá dentro abafava-se. Além disso,tinha as suas necessidades. O dono que tivesse juízo. Teria andado na rambóia,deitara-se tarde,mas ele não queria saber de desgraças. Tinham de ir dar uma volta.
Ordens são para se cumprirem. Levantara-se a custo,passara rapidamente pela casa de banho e enfarpelara-se ligeiramente,pois sabia muito bem o que o esperava. E assim,foi visto em calções,com camisa de manga curta,de trela na mão,a reboque do companheiro.
O que ele tossia,o que ele tropeçava,o que ele cuspia. Algumas vezes esteve em risco de se estatelar. Era uma dor de alma. Mas o monstro é que não estava para compaixões.
Quem quer um cão assim tem de estar à altura. Este dono não se importaria,porém,de fazer figuras tristes. Lá teria as suas compensações. Em primeiro lugar,dar-lhe-ia uma certa classe o exibir um tal adorno. Depois,livrá-lo-ia de assaltos,para os quais não estaria preparado. Não lhe custaria,pois,fazer alguns sacrifícios,como o de sair cedo da cama em manhãs de domingo,fizesse sol ou não.

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