Encontrara-o por acaso e não estava à espera de qualquer lembrança. Lá na terra,quando o visitava,ele nunca se esquecia de lhe dar umas moeditas,que,juntas a outras,davam-lhe para uma época inteira. Também não se alargava muito,um pirolito,umas pevides,uns tremoços,um cinemazito,coisas assim.
Mas naquele dia,não. Naquele dia, foi um mãos-largas,uma autêntica fortuna,nem queria acreditar. A sua cara,quase sempre para o grave,como que resplandecia de contentamento. O que lhe teria acontecido? Não se soube naquela altura,mas não se perdeu pela demora.
Era perdido pela lotaria,pelo que os cauteleiros não lhe largavam a porta. E um dia,certamente, o da fortuna,saiu-lhe a sorte grande.Ia sendo a desgraça dele. Convencera-se,talvez,de que a sorte o tinha escolhido,pelo que não se cansava de a procurar. Comprava bilhetes inteiros,às dúzias.
E sucedeu o que é costumeiro em casos destes. Não me hás-de fugir. Saís-te-me uma vez ao caminho,mas não será a última,eu te garanto. Escapava-se-lhe como por encanto,trocando-lhe as voltas,mas ele não desistia.
Um rio de dinheiro. Acabou por pedi-lo emprestado a altos juros,hipotecando. Fez isso uma e mais vezes. Se não tivesse parado,ficaria sem nada. O que lhe valeu foi ter começado com muito,com larga margem,pois,para desbaratar.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
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