domingo, 21 de dezembro de 2008

PEIXES VIVOS

Eram o João e o José. O João comandava as vendas e o José encarregava-se das contas. Um,sabia de números e de letras,o outro,de trapos e demais família. Mas não havia duas pessoas mais iguais e mais diferentes.
Eram iguais em quê? No tamanho,para o baixo,na cabeça pendida,no cabelo negro e basto,nos olhos fugidios,no ar astuto e untuoso,no jeito de lidar com o patrão,que se sentiria deles dependente. E diferentes em quê? Na gordura,o João a tirar para o chupado,e o José para o luzidio,na linguagem,no João ,desbragada,no José,polida e buscada.
Nunca se sabia como era o seu acordar. O que viria dali,daquelas duas cabecinhas,de um e do outro? Boa coisa não seria,adocicada,macia,no José,amarga,áspera,no João. Cada um brincava à sua maneira,mas gostavam ambos dos seus jogos de palavras. Tudo neles tinha um duplo sentido,ou mais. Nunca se vira gente tão desconcertante,tão escorrregadia. Pareciam peixes vivos.

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