sexta-feira, 10 de julho de 2009

JOGAR À BISCA

Era um inconformado. Herdara umas courelas,mas não soubera ou não pudera viver delas. E hoje,uma,amanhã outra,lá se foram algumas jóias da família. O que lhe valeu foi ser solteiro e ter um irmão, mais atilado,que o passou a sustentar.Vivia numa casita que pouco mais tinha do que um quarto,mas para ele chegava. Logo ao pé da porta, havia uma nora que começava a trabalhar bem cedo,o que lhe dava algum conforto. Sempre gostara da natureza e aquela água a cair dos alcatruzes era para ele como música celestial. Dava-lhe esse passatempo,complementado com a inspecção da horta,até ao almoço.De tarde,ia até à sede da filarmónica. Aqui se entretinha horas a fio,conversando e jogando às cartas ou ao dominó. Era do contra,e de vez em quando ia para trás das grades. Tratava-se de temporadas curtas,pois aquilo,no que lhe dizia respeito,não passava de paleio. De resto,ele era incapaz de fazer mal a uma mosca. Acontecia,porém,que lhe dava para dizer não,quando alguns queriam que ele dissesse sim.Como se depreende,dele não viria grande mal ao mundo. Assim o entendia quem tratava destes assuntos. Mas uma vez por outra,já se sabe,deixava de poder ouvir a nora e jogar à bisca. Felizmente que a família esperava sempre por ele. Mas há um momento em que não há ninguém que nos valha,mesmo que tenhamos dito sempre que sim.

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