Pode dizer-se que era o médico dos pobres. Vivia um tanto marginalizado e teria as suas dificuldades. Um seu procedimento contribuíra,em grande parte,para isso. Coisas da vida. Aconteceu que uma senhora casada decidiu passar a ser sua companheira. Naquele tempo,isso caiu muito mal. Não lhe perdoavam e apontavam-no a dedo. Uma pessoa como ele tinha de se dar ao respeito. O certo é que eles não ligaram.
Ela deixou-se ficar e ele aceitou-a como sua mulher. A senhora dedicara-se inteiramente à sua nova casa e ajudava-o na sua vida. Atendia os clientes e aprendeu,até,uns rudimentos de enfermagem. Ela é quem dava as injecções. Era,assim,uma espécie de empresa familiar.
Tinha automóvel,mas raramente o utilizava. Preferia fazer as visitas a pé,enfrentando o "inimigo". Cobrava honorários modestos,esquecendo-se,às vezes,de os lembrar. Procurava,também,não sobrecarregar os doentes com gastos de farmácia,recorrrendo a receituário caseiro. Era capaz de considerar que para males já bastavam os do corpo.
A figura era franzina,acentuando-lhe o ar humilde. Do conjunto,era a voz que se impunha,uma voz arrastada,serena,cheia. Fora a voz que rendera a senhora? Quem sabe? Conta-se que certa marqueza casou com o sacristão da sua capela rica pela elegância posta no acolitar. É que o coração tem razões que a razão desconhece.
domingo, 23 de novembro de 2008
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