Era mesmo parecido com a mãe. Entre outros jeitos,dela lhe ficara o de não enjeitar gente de pouca consideração. Quantas vezes a vira à conversa,por largo tempo,com uma velhota que vivia de recados. Lá se entretinham não se sabia bem com quê,mas o certo é que nem uma nem outra mostrava enfado.
Ia lá por casa,também,uma moça um tanto atrasada,mas que se encarregava,a contento,aqui e ali,de vários serviços. A doença, ou lá o que era,parecia ter resultado de maus hábitos dos pais,que abusariam da pinga. Coxeava,e trazia,quase sempre,os olhos muito inflamados. De feitio tristonho,a mãe procurava alegrá-la ,incutindo-lhe esperança num bom casamento. Pode lá ser,senhora. Ela ficava,porém,muito satisfeita,estado que raramente a visitava. Coitada dela,fugia dos rapazes,como se fosse do demónio.
Pois ele herdara da mãe esta faceta. Não é que os procurasse,mas eles aproximavam-se ,talvez por sentirem que não seriam enxotados. Enchia-se de paciência para os atender. Pelo menos,com estes não teria surpresas. Não havia ali segundas intenções,apenas uma necessidade vital de companhia.
domingo, 30 de novembro de 2008
CONSTÂNCIA - PORTUGAL
"Constância era a antiga Punhete, que D.Sebastião elevou a vila em 1578. Julgam alguns escritores que foi aí que Camões sofreu o destêrro dos anos de 1548-1550,provocado pelos seus mal-aventurados amores com Catarina de Ataíde. Foi também em Constância que se reuniu o exército inglês antes de marchar sôbre a Espanha e de ali travar a famosa batalha de Talavera,em que Wellington derrotou os Franceses,comandados por Jourdan e Victor(Jullho de 1809). Só em 1836 ,porém,a vila tomou o nome por que é hoje conhecida....
Na parte baixa da pov. fica a igreja da Misericórdia,forrada de interessantes azulejos,e no seu ponto culminante a matriz,fund. em 1636 e restaurada profundamente no séc. XIX,com trabalhos de mármore,e cujo teto José Malhoa pintou em 1890. Da tôrre goza-se um soberbo panorama...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
sábado, 29 de novembro de 2008
CHÃO MACIO
Em tardes de tourada,alguns miúdos não largavam os portões de acesso aos camarotes. Pareciam uns pedintes de mão estendida. É que era só por ali que podiam franquear o reduto onde actuariam os seus ídolos. Sempre surgia alguém,de melhor coração,que deles se compadecia e os integrava na família. Depois,que se arranjassem. Não precisavam,de facto,que lhes indicassem o caminho,logo que se viam para além do fosso de protecção.
Raramente acontecia terem sorte à primeira tentativa e,às vezes,passavam por certos enxovalhos. Mas quem anda à chuva molha-se,é bem sabido. Que maçada,nem aqui nos poupam. Deviam ser corridos. Mas o desejo de não se furtarem aos apelos era tal,que tudo suportavam. A sua pouca idade mitigava-lhes, também,as agruras.
Lá mais para diante,talvez se recordassem delas,achando-lhes graça. Alguns,mais piegas,não esqueceriam os vexames e isso doer-lhes-ia. Mas para alguma coisa eles teriam servido,quanto mais não fosse para lhes dar mais resistência para a dureza da vida. Habituados a negativas,não se desorientariam, facilmente, quando as portas se lhes fechassem. E talvez viessem a bendizer o não terem sentido sempre o chão macio de tapetes aveludados.
Raramente acontecia terem sorte à primeira tentativa e,às vezes,passavam por certos enxovalhos. Mas quem anda à chuva molha-se,é bem sabido. Que maçada,nem aqui nos poupam. Deviam ser corridos. Mas o desejo de não se furtarem aos apelos era tal,que tudo suportavam. A sua pouca idade mitigava-lhes, também,as agruras.
Lá mais para diante,talvez se recordassem delas,achando-lhes graça. Alguns,mais piegas,não esqueceriam os vexames e isso doer-lhes-ia. Mas para alguma coisa eles teriam servido,quanto mais não fosse para lhes dar mais resistência para a dureza da vida. Habituados a negativas,não se desorientariam, facilmente, quando as portas se lhes fechassem. E talvez viessem a bendizer o não terem sentido sempre o chão macio de tapetes aveludados.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
CASTELO DE ABRANTES - PORTUGAL
"Santa Maria do Castelo(mon. nac.)
A igr. primitiva foi edif. por D. Afonso II em 1215,sendo nela sepultado durante algum tempo o infante regente D.Pedro,depois da sua morte no recontro de Alfarrobeira. Em 1429 um tremor de terra danificou-a muito,reedificando-a em 1433 o alcaide-mor D. Diogo Fernandes de Almeida,pai do 1º conde de Abrantes.
Corpo duma só nave...O arco triunfal,gótico,é o que marca melhor a antiguidade...
Torre de menagem,edif. por D.Denis em 1303 à altura de 213 m.,e do cimo da qual se disfruta um dos mais vastos e variados panoramas da Extremadura,num horizonte de 16 léguas de raio...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 1º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
ERA VERDADE
Aquelas terras não lhes pertenciam. Eram foros antigos. Teria sido transacção sob palavra ou com o fazer de um documento que se sumira. Estavam agora ali irreconhecíveis. O trabalho de gerações tinha feito o milagre. Além do chão,tornado úbere,havia casas e poços.
Certo dia,um dos herdeiros achou que aquilo não podia continuar assim Tinham de sair de lá,que as terras eram dele. E era verdade,à face da lei.
Não queriam acreditar os coitados. Então o que vai ser da gente? Para onde iremos morar? E quem nos paga os melhoramentos que aqui fizemos? Se nos querem tirar daqui,há-de ser sobre os nossos corpos.
Ainda tiveram ilusões. Aquilo era uma muralha que metia respeito. À frente,dispunham-se as mulheres com os filhos,à laia de tropa de choque. Atrás,ficaram os homens,para os reforços. Foi uma luta desigual.
No chão,que tinha sido a cama de muita semente,jaziam, estendidos ,alguns para sempre. Só que destes apenas nasceram ódios.
Certo dia,um dos herdeiros achou que aquilo não podia continuar assim Tinham de sair de lá,que as terras eram dele. E era verdade,à face da lei.
Não queriam acreditar os coitados. Então o que vai ser da gente? Para onde iremos morar? E quem nos paga os melhoramentos que aqui fizemos? Se nos querem tirar daqui,há-de ser sobre os nossos corpos.
Ainda tiveram ilusões. Aquilo era uma muralha que metia respeito. À frente,dispunham-se as mulheres com os filhos,à laia de tropa de choque. Atrás,ficaram os homens,para os reforços. Foi uma luta desigual.
No chão,que tinha sido a cama de muita semente,jaziam, estendidos ,alguns para sempre. Só que destes apenas nasceram ódios.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
GOLEGÃ - PORTUGAL
"Na vila merece referência a igreja matriz (mon. nac.), manuelina,dos princípios do séc. XVI. A porta principal,ricamente esculpida,tem a exuberância túrgida própria do estilo. Formam-na arcos policêntricos bordados de cairéis e um renque de alcachofras estilizadas sôbre as cruzes de Cristo do tímpano,entre pináculos acogulados e torcidos,cujas bases se dividem e sobrepõem no complexo moldurado manuelino. Aos lados e sôbre o óculo as armas régias e o emblema das esferas,e quebrando o frontão dois botaréus góticos encrespados de cogulos. As portas laterais têm ainda portas manuelinas,mas mais simples e rudes...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
CHAMUSCA - PORTUGAL
"Na parte alta da vila a igr. de S.Francisco,forrada de azulejos,e de cujo adro se avista um horizonte que se estende por umas 10 léguas de circuito,e que vai desde o castelo de Ourém, pela serra de Minde, até Santarém. Devem-se admirar ainda os belos panoramas da Senhora do Pranto, Cabeça Alta e Senhor de Bomfim,donde se avistam os conc. de Abrantes, Constância, Barquinha, Golegã,Torres Novas, Alcanena, Ourém, Santarém e Alenquer."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volumel
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
UMA ESCADA
Já há muitos anos que o não via,mas estava ao corrente do seu brilhante percurso. De resto,não era de esperar outra coisa,do que dele sabia. Ainda há pouco tempo tivera novas dele por alguém que muito o considerava. Era difícil encontrar melhor pessoa,sempre pronto a ajudar,sem regateios.
E foi uma grande surpresa a colhida naquele fim de tarde. Vinha dele uma profunda melancolia,que as olheiras ainda mais acentuavam. Não esperava o seu desabafo. Fora uma incontida necessidade,para descomprimir. O que ele sofrera ultimamente. No passado,tivera já uns ameaços,mas coisa sem importância. Mas naquela altura, não. E veio o esclarecimento.
O patamar que ocupava,um patamar cimeiro,devia-o a uma esmola. Sim,não se lhe podia chamar outra coisa. Chegara ali,porque alguém,por capricho, por vaidade,talvez por bondade,lhe dera a mão. Nesse tempo,era muito novo e o gesto agradara-lhe. Se assim não tivesse acontecido,ainda,muito provavelmente,lá estaria naquele buraco,trilhando os mesmos,ou muito parecidos, caminhos do pai,um bom homem,mas um pobretana.
Trabalhara,era certo,pondo a render os dons que herdara,e ali estava sem precisão de mendigar. Não pedira nada,mas aceitara,o que para ele ia dar no mesmo. Quantos não podiam ter trepado como ele,se uma escada lhes tivesse sido oferecida,mas a sorte não os bafejara. Porquê ele e não outros? Fora uma injustiça. E isso amargurava-o,por ele e por muitos. Não foi possível consolá-lo.
E foi uma grande surpresa a colhida naquele fim de tarde. Vinha dele uma profunda melancolia,que as olheiras ainda mais acentuavam. Não esperava o seu desabafo. Fora uma incontida necessidade,para descomprimir. O que ele sofrera ultimamente. No passado,tivera já uns ameaços,mas coisa sem importância. Mas naquela altura, não. E veio o esclarecimento.
O patamar que ocupava,um patamar cimeiro,devia-o a uma esmola. Sim,não se lhe podia chamar outra coisa. Chegara ali,porque alguém,por capricho, por vaidade,talvez por bondade,lhe dera a mão. Nesse tempo,era muito novo e o gesto agradara-lhe. Se assim não tivesse acontecido,ainda,muito provavelmente,lá estaria naquele buraco,trilhando os mesmos,ou muito parecidos, caminhos do pai,um bom homem,mas um pobretana.
Trabalhara,era certo,pondo a render os dons que herdara,e ali estava sem precisão de mendigar. Não pedira nada,mas aceitara,o que para ele ia dar no mesmo. Quantos não podiam ter trepado como ele,se uma escada lhes tivesse sido oferecida,mas a sorte não os bafejara. Porquê ele e não outros? Fora uma injustiça. E isso amargurava-o,por ele e por muitos. Não foi possível consolá-lo.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
MUGE,SALVATERRA DE MAGOS - PORTUGAL
Porto de Muge
Porto de Muge
Do Flickr Todas as imagens by Portuguese_eyes
"Muge...,junto à ribeira do mesmo nome. Tinha,em tempos antigos,o nome de Muja. D.Denis deu-lhe foral em 1304 e 1307. Eram senhores de Muge os duques de Cadaval,que ali construiram um palácio e fundaram uma quinta.....Defronte,na marg. dir. do Tejo,Pôrto de Muge."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
UMA VISITA
Fora visitá-la. Era uma senhora já de muita idade,acamada há largos meses. Devia-lhe muito,uma dívida muito antiga. Tinha sido,pode dizer-se,uma sua segunda mãe. Mas isso já lá ia há um ror de tempo,talvez ela nem já se lembrasse. Mas mesmo assim,nunca ele se tinha esquecido. Ha coisas que nunca esquecem,ou não deviam ser esquecidas.
O que é que lhe havia de dizer? Não queria que aquele encontro,que podia ser o último,estivesse povoado de tristezas. Recordar-lhe momentos de festa que ela proporcionara seria uma boa saída. E foi o que fez.
Via-se que ela ficara um tanto admirada. Não esperaria. Mas bem depresssa aceitou,com satisfação,aquela franqueza,aquela fraqueza,colaborando e recordando factos que se supunha estarem esquecidos. O prazer que aquilo lhe deu,até parece ter ganho novo alento.
Estava ali um que lhe mostrava reconhecimento,ao contrário de outros,que fugiam de o manifestar. Com isto,ter-lhe-ia dado mais uma justificação para a sua longa vida,que não teria sido em vão. Prestes a encetar a tal viagem,estava ali aquele a lembrar-lhe que tinha sido amiga. Podia morrer descansada. Morreu,de facto,pouco depois. Parecia ter demorado,à espera daquela visita.
O que é que lhe havia de dizer? Não queria que aquele encontro,que podia ser o último,estivesse povoado de tristezas. Recordar-lhe momentos de festa que ela proporcionara seria uma boa saída. E foi o que fez.
Via-se que ela ficara um tanto admirada. Não esperaria. Mas bem depresssa aceitou,com satisfação,aquela franqueza,aquela fraqueza,colaborando e recordando factos que se supunha estarem esquecidos. O prazer que aquilo lhe deu,até parece ter ganho novo alento.
Estava ali um que lhe mostrava reconhecimento,ao contrário de outros,que fugiam de o manifestar. Com isto,ter-lhe-ia dado mais uma justificação para a sua longa vida,que não teria sido em vão. Prestes a encetar a tal viagem,estava ali aquele a lembrar-lhe que tinha sido amiga. Podia morrer descansada. Morreu,de facto,pouco depois. Parecia ter demorado,à espera daquela visita.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - X
55 - Composição da luzerna e do solo ao longo de uma cultura. 1978
56 - Sobre o potássio dalguns solos da região vitícola do Bombarral. 1978
57 - Adubos químicos e poluição da água. 1978
58 - Sobre a fertilidade dos principais solos do perímetro de rega do Alto Sado. 1978
59 - Comparação de vários índices de potássio do solo com o potássio extraído pelo azevém-perene em vasos. 1979
60 - Sobre o potássio e o magnésio dos principais solos do perímetro de rega do Alto Sado. 1979
56 - Sobre o potássio dalguns solos da região vitícola do Bombarral. 1978
57 - Adubos químicos e poluição da água. 1978
58 - Sobre a fertilidade dos principais solos do perímetro de rega do Alto Sado. 1978
59 - Comparação de vários índices de potássio do solo com o potássio extraído pelo azevém-perene em vasos. 1979
60 - Sobre o potássio e o magnésio dos principais solos do perímetro de rega do Alto Sado. 1979
domingo, 23 de novembro de 2008
RAÚL PROENÇA
O merecimento deste homem,deste português. Bastava só o Guia de Portugal. O saber,a qualidade da narração,as contribuições dos colaboradores,dos melhores,o pormenor,sem deixar escapar o mais modesto lugar.
Um Monumento este Guia de Portugal,feito,pode dizer-se,com muito amor pelo seu país. A Fundação Calouste Gulbenkian e Sant'anna Dionísio assim o terão entendido.
Um Monumento este Guia de Portugal,feito,pode dizer-se,com muito amor pelo seu país. A Fundação Calouste Gulbenkian e Sant'anna Dionísio assim o terão entendido.
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Meia dúzia de palavras,
Personalidades,
Portugal
SALVATERRA DE MAGOS - PORTUGAL
A 28 de Outubro,com AVIS - PORTUGAL,agradeci,pela primeira vez,a Portuguese_eyes,o uso(abuso) das suas belas e elucidativas imagens. Pela segunda vez,e não será a última,espero eu,venho expressar os meus vivos agradecimentos.
"Salvaterra de Magos...,no contacto das areias pliocénicas com a terra aluvial,entre Tejo e Sorraia,mas mais perto daquele rio,e com uma postura mais senhoril e restos de antigos palácios....Em 1382 foi assinado, em Salvaterra,o tratado de paz com a Espanha. Havia aqui um palácio real,mandado construir pelo infante D.Luís,filho de D.Manuel,e aumentado em 1690 por D. Pedro II,que fez também belos jardins,um teatro,onde,entre os anos de 1765 e 1791,foram cantadas 22 óperas,e um circo tauromáquico,que ficou célebre pela morte,sob as hastes do toiro,do 1º conde dos Arcos D. Manuel de Meneses e Noronha,filho segundo do 4º marquês de Marialva(1779). Este facto inspirou o belo conto de Rebelo da Silva,A Última Corrida de Touros em Salvaterra,certamente a sua obra-prima. Junto à casa da ópera foi assassinado na noite de 28 para 29 de Fevereiro de 1824,o marquês de Loulé. Pouco depois um incêndio destruiu quase inteiramente o palácio..."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal I
1924
Apresentação e Notas de
Sant'anna Dionísio
3ªreimpressão 1991
Fundação Calouste Gulbenkian
O CORAÇÃO TEM RAZÕES...
Pode dizer-se que era o médico dos pobres. Vivia um tanto marginalizado e teria as suas dificuldades. Um seu procedimento contribuíra,em grande parte,para isso. Coisas da vida. Aconteceu que uma senhora casada decidiu passar a ser sua companheira. Naquele tempo,isso caiu muito mal. Não lhe perdoavam e apontavam-no a dedo. Uma pessoa como ele tinha de se dar ao respeito. O certo é que eles não ligaram.
Ela deixou-se ficar e ele aceitou-a como sua mulher. A senhora dedicara-se inteiramente à sua nova casa e ajudava-o na sua vida. Atendia os clientes e aprendeu,até,uns rudimentos de enfermagem. Ela é quem dava as injecções. Era,assim,uma espécie de empresa familiar.
Tinha automóvel,mas raramente o utilizava. Preferia fazer as visitas a pé,enfrentando o "inimigo". Cobrava honorários modestos,esquecendo-se,às vezes,de os lembrar. Procurava,também,não sobrecarregar os doentes com gastos de farmácia,recorrrendo a receituário caseiro. Era capaz de considerar que para males já bastavam os do corpo.
A figura era franzina,acentuando-lhe o ar humilde. Do conjunto,era a voz que se impunha,uma voz arrastada,serena,cheia. Fora a voz que rendera a senhora? Quem sabe? Conta-se que certa marqueza casou com o sacristão da sua capela rica pela elegância posta no acolitar. É que o coração tem razões que a razão desconhece.
Ela deixou-se ficar e ele aceitou-a como sua mulher. A senhora dedicara-se inteiramente à sua nova casa e ajudava-o na sua vida. Atendia os clientes e aprendeu,até,uns rudimentos de enfermagem. Ela é quem dava as injecções. Era,assim,uma espécie de empresa familiar.
Tinha automóvel,mas raramente o utilizava. Preferia fazer as visitas a pé,enfrentando o "inimigo". Cobrava honorários modestos,esquecendo-se,às vezes,de os lembrar. Procurava,também,não sobrecarregar os doentes com gastos de farmácia,recorrrendo a receituário caseiro. Era capaz de considerar que para males já bastavam os do corpo.
A figura era franzina,acentuando-lhe o ar humilde. Do conjunto,era a voz que se impunha,uma voz arrastada,serena,cheia. Fora a voz que rendera a senhora? Quem sabe? Conta-se que certa marqueza casou com o sacristão da sua capela rica pela elegância posta no acolitar. É que o coração tem razões que a razão desconhece.
sábado, 22 de novembro de 2008
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
AZAMBUJA - PORTUGAL
Do Flickr Todas as imagens by Portuguese_eyes
"Azambuja foi tomada aos Moiros por D.Afonso Henriques,que a deu a D.Childe Gil Rolim,filho do Conde de Chester,em recompensa dos serviços prestados na conquista de Lisboa em 1147. D.Sancho I deu-lhe foral e D. Manuel foral novo em 1513. Foi berço de alguns homens notáveis,como o inquisidor fr. Jerónimo de Azambuja e o capitão Diogo de Azambuja,que em 1505 tomou a praça de Çafim....
Estradas para:... b)a foz da Vala,onde fica o chamado Palácio das obras novas,que serviu de est. da carreira de vapores de Lisboa a Constância(local muito pitoresco)...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
VALA DA AZAMBUJA - PORTUGAL
ERA TUDO NATURAL
Chegavam as carroças com as dornas atulhadas de cachos de uvas e encostavam-se às janelas. Era por elas que se fazia a transferência,com forquilhas,para os lagares. Atingido um certo nível,uma meia dúzia de homens,de pernas ao léu,encarregavam-se do esmagamento com os pés.
Não consta que tivessem cartões de sanidade,nem que tomassem banho previamente. Ali ficavam até darem a tarefa por concluída. Havia,é claro,os intervalos para as refeições e para as necessidades. Sempre que entravam ou saíam do lagar,mergulhavam,sem grandes demoras,os pés numa celha com água.
Não consta,também,que alguém,alguma vez,se tivesse preocupado com o chão que pisavam,nas idas e vindas,eles ou quem os contratava. Tudo aquilo era natural,como naturais eram as uvas e as moscas que por ali andavam na sua vida.
Não consta,igualmente,que alguém,alguma vez,se tivesse preocupado com aquela fracção de cloreto de sódio que apareceria no vinho,mas que não viera dos cachos. Tudo aquilo era natural,como naturais eram as leveduras que enxameavam o ar e que os cachos já trariam,e que iriam converter,a sua vocação,o açúcar em etanol e dióxido de carbono.
O mosto borbulhava,o mosto exalava. Tudo aquilo era naturalmente natural.
Não consta que tivessem cartões de sanidade,nem que tomassem banho previamente. Ali ficavam até darem a tarefa por concluída. Havia,é claro,os intervalos para as refeições e para as necessidades. Sempre que entravam ou saíam do lagar,mergulhavam,sem grandes demoras,os pés numa celha com água.
Não consta,também,que alguém,alguma vez,se tivesse preocupado com o chão que pisavam,nas idas e vindas,eles ou quem os contratava. Tudo aquilo era natural,como naturais eram as uvas e as moscas que por ali andavam na sua vida.
Não consta,igualmente,que alguém,alguma vez,se tivesse preocupado com aquela fracção de cloreto de sódio que apareceria no vinho,mas que não viera dos cachos. Tudo aquilo era natural,como naturais eram as leveduras que enxameavam o ar e que os cachos já trariam,e que iriam converter,a sua vocação,o açúcar em etanol e dióxido de carbono.
O mosto borbulhava,o mosto exalava. Tudo aquilo era naturalmente natural.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
MONUMENTO DA BATALHA DE OURIQUE,VILA CHÃ DE OURIQUE - PORTUGAL
Do Flickr,by Portuguese_eyes
"Logo à saída do Cartaxo,vê-se à dir. uma baixa perto da qual fica o chamado Chão de Ourique,um dos locais onde se pretendeu ter-se travado a famosa batalha de Ourique."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
"...
A vida de Afonso Henriques,um chefe guerrilheiro,decorreu em lutas com Leão e os Sarracenos. ... Atacado em 1137,marcha para o Sul,e sai vitorioso num campo de Ourique,que não podemos hoje localizar...."
ANTÓNIO SÉRGIO
Guia de Portugal I
Raúl Proença
Biblioteca Nacional de Lisboa
1924
Apresentação e Notas de
Sant'anna Dionísio
Fundação Calouste Gulbenkian
1991
"Logo à saída do Cartaxo,vê-se à dir. uma baixa perto da qual fica o chamado Chão de Ourique,um dos locais onde se pretendeu ter-se travado a famosa batalha de Ourique."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
"...
A vida de Afonso Henriques,um chefe guerrilheiro,decorreu em lutas com Leão e os Sarracenos. ... Atacado em 1137,marcha para o Sul,e sai vitorioso num campo de Ourique,que não podemos hoje localizar...."
ANTÓNIO SÉRGIO
Guia de Portugal I
Raúl Proença
Biblioteca Nacional de Lisboa
1924
Apresentação e Notas de
Sant'anna Dionísio
Fundação Calouste Gulbenkian
1991
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
PROMESSA VÃ
"...Em 13 de Julho de 1491,andando o príncipe D.Afonso,filho único de D.João II,a correr o pareo entre as Omnias e o Alfange,isto é correndo a cavalo de mãos dadas com João de Mendonça,foi cuspido da sela e esmagado pelo pêso do animal,sendo transportado numa rêde para uma pobre cabana de pescadores,onde morreu momentos depois. Passado pouco mais de um século,outro desastre se dava nas marges do Tejo...
Um ou outro vão manuelino finamente recortado e o pelourinho joanino(mon. nac.),de granito,com o camoroeiro de D. Leonor,lembrando-nos que esta rainha aqui(Óbidos) veio curtir máguas pelo desgôsto sofrido com a morte desastrosa,no Ribatejo,do seu filho único...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
Tanta esperança vã. A vida,um entertecer de alegrias e de tristezas,de risos e de lágrimas . É isto tão verdadeiro que já levou alguém a dizer que quem muito sofreu muito viveu Tanta promessa vã.
Um ou outro vão manuelino finamente recortado e o pelourinho joanino(mon. nac.),de granito,com o camoroeiro de D. Leonor,lembrando-nos que esta rainha aqui(Óbidos) veio curtir máguas pelo desgôsto sofrido com a morte desastrosa,no Ribatejo,do seu filho único...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
Tanta esperança vã. A vida,um entertecer de alegrias e de tristezas,de risos e de lágrimas . É isto tão verdadeiro que já levou alguém a dizer que quem muito sofreu muito viveu Tanta promessa vã.
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