segunda-feira, 29 de junho de 2009

TESTAMENTO

O diabo do homem,para o que lhe havia de dar,ali sentado,de manhã à noite. Não devia estar bom da cabeça,coitado,era o que constava. Qualquer dia,ficava-se para ali,para ali e para sempre,seria o mais certo. De qualquer maneira,lá pensaria ele,ou outro,que não seria só ele a pensar,se não fosse ali,seria noutro sítio,o que,bem vistas as coisas,ia tudo dar ao mesmo,o que,aliás,era isso bem sabido,mas todos procuravam esquecer,coitados deles,que já traziam,quando nasciam, o destino bem marcado,que era o mesmo para todos,sem tirar,nem pôr,nem que fosse o mais pintado,ou pintada.
E o que é que ele fazia ali sentado? Pois escrevia o seu testamento. Quem não acreditasse é porque não teria também o seu testamento a escrever,o que seria muito triste,por ter cá estado sem ter nada para deixar. E fora do nada havia tanta coisa para deixar,que só quem não tivesse vivido é que não teria nada para deixar. Ora ter vivido e nada deixar deveria ser uma coisa muio triste,de que todos quereriam fugir.

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